segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobre MMA, o ser humano e a crise estrutural do Capitalismo Selvagem



Não vou falar de MMA, “esporte” que entendo “bulufas”. Sou  ex-atleta sim mas de basquetebol, esporte que apesar de ser considerado esporte olímpico amador e obedecendo as regras do “amadorismo”, na época  fui  atleta profissional, era pago pra jogar. Vendia minha força de trabalho, minha mais valia, era "explorado", usava na camiseta a logomarca do(s) patrocinador(es) que pagavam meu salário.

Não, não vou falar de MMA. Vou falar de Alienação, de mercantilização do esporte e da espetacularização do mesmo e do fetiche embutido, incutido nestas praticas corporais. Agnes Heller, uma filósofa húngara em sua fase ainda marxista afirmou que "as reproduções da sociedade são as reproduções das mesmas contradições que permeiam essa sociedade". De fato.



O processo de mercantilização do esporte existe não é de hoje com a apropriação da mídia+mercado e a espetacularização com fins únicos de se construir um produto, um “enlatado” e de vendê-lo como algo novo rebuscado como esporte. O que chamam hoje de MMA dentro de uma nova roupagem não passa da luta livre, prática que por muito tempo nunca foi considerada esporte devido ao teor brutal existente nela mesma. Mas, se é o que há de humanidade em nós que nos torna mais humanos, a carência ou até mesmo ausência de humanidade, um estado pleno de ignorância e alienação, não nos embrutece?

O que me preocupa na verdade é a "invisibilidade do visível" lá de Foucault e de Deleuze, como diria um ex-professor da  faculdade. O que me preocupa  são as relações de dominação, de exploração e de alienação existentes não só no MMA mas em uma série de “modismos” que foram e estão sendo incorporados dentro da cultura com um forte apelo sedutor e muitas vezes romântico assumindo roupagens revestidas de um discurso globalizado, globalizante, de primeiro mundo, mas que na verdade não passam de instrumentos alienantes utilizados ela sociedade do capital que em crise grita cada vez mais por se manter no poder, ou de se renovar, como diria Adorno.

Em um dos seus ensaios, professor Pedro Demo afirma que "o conhecimento, ao longo da história da humanidade, sempre esteve a serviço do poder e não da verdade". Ou seja, na busca da “desfetichização do fetiche” que é o produto criado na sociedade de capital como forma alienadora, alienante e a fim de tentar entender as contradições existentes nesta mesma sociedade com a finalidade de propor rupturas, contrapontos, somos alvo de críticas, de incompreensões, de ofensas e alcunhas das mais perversas, seja nos espaços formais ou não-formais. E os covardes falam pelas costas mas não nos trazem os argumentos.



O que leva a um atleta deslocar o ombro do colega mesmo já o tendo imobilizado, com o golpe encaixado? Em luta recente ao vivo e em rede nacional, há quem ouviu o estalo no momento de dôr do opositor ao deslocar o ombro e em seguida se debatia no octágono enquanto ao vencedor eram dados os aplausos. Como disse um colega professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, a forma como os dois Brasileiros (Rodrigo Minotauro e Lyoto Machia) terminaram suas lutas (2011), merece, no mínimo, uma observação. O primeiro teve simplesmente uma fratura transversa no úmero por não ter desistido (os famosos 3 tapinhas) depois de um golpe encaixado (Kimura, se não me engano). O segundo apagou frente nossos olhos por, também, não ter desistido após um estrangulamento encaixado (Confiram a “assustadora” foto: http://br.esportes.yahoo.com/blogs/casca-grossa/ufc-140-jones-apaga-machida-minotauro-%C3%A9-finalizado-052859825.html). 

Prossegue o mesmo colega  "O que para mim é notório – e teve ontem sua expressão- é o processo de alienação; neste caso, traduzindo como estranhamento.O esporte que deveria me servir, onde deveria me reconhecer enquanto produtor e consumidor (consumo no ato de produção) passa a se estranhar de mim; passo a praticá-lo para atender a outros fins que não os diretamente ligados à minha satisfação. Passo a ter que valorizar uma marca, um clube, uma seleção, uma Confederação... uma mercadoria, às vezes minha própria força de trabalho enquanto mercadoria. O estranhamento invadiu a luta esportivizada: o MMA. O que existe por trás de um lutador que, convencido que o golpe está “encaixado” (gíria que significa que o golpe está eficiente), ainda assim não desiste?"

Relações mercantis. Ou quebra o braço do oponente ou perde o emprego, o patrocínio. Sua força de trabalho, sua mercadoria é o produto do seu trabalho, de sua prática enquanto atleta ou seja, é a sua luta.

Nesse sentido, estamos vivenciando uma Europa em crise e nos surpreendemos ao presenciarmos ainda em vida o surgimento avultado desse novo personagem americano, o “home-less” e o ativista que em plena “wall-street” novaiorquina (pasme), centro financeiro do capitalismo do qual são filhois, implorarem contra as políticas de retenção\acúmulo do poder  por parte de poucos ante a miséria de mutos.

Negro e pobre que sou e que sempre fui,  egresso de uma ancestralidade que do ponto de vista histórico somente a bem pouco tempo erradicou uma das piores criações existentes nas relações de poder impostas pelo capital – a escravidão – relembro, apesar dos apelos de mercantilização e de esportitivação de um fenômeno típico da minha ancestralidade, a capoeira, a capoeira Angola do Mestre João Pequeno falecido recentemente, pobre e honrado, longe de saber o que significa um salário de 3 milhões por mês como os valores recém anunciados pela mídia na renovação de contrato do “craque” Neymar, fruto de toda essa espetacularização e mercantilização impostas por esta sociedade alienante do capital, e  como um grito de contraposição e de resistência a ordem imposta por estas apropriações neoliberais em torno do esporte, dos modismos dos discursos globalizantes, a nos ensinar de forma contextualizada e referendada sócio-histórico e criticamente quem somos, de onde vimos e para onde vamos. E ela mesma, a capoeira, já sofre fortes indícios de esportitivização, de espetacularização em uma de suas variações - a capoeira regional.



E que possamos, ao estabelecer os nexos críticos com a realidade e com o estranhamento, assumirmos  posições firmes, revolucionarias, tão revolucionárias como sempre foram, mesmo que sob a ofensa daqueles que nos chamam de “estáticos nas idéias”, idéias propostas há anos e que ao transpassar dos nossos olhos nunca foram tão atuais para explicar a sociedade de hoje de muitos destes que de forma intransitiva, superficial e rasteira se atém aos “estalar dos braços” do lutador, assistindo de forma passiva o “encaixe dos golpes”, vibrando efusivamente, sem perceber que ele é quem esta sendo, aos poucos, “finalizado”.







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