DANIELA LIMA
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE SÃO PAULO
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE SÃO PAULO
Na época em que chefiava a Secretaria Estadual da Educação, o deputado
federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) pagou R$ 1,1 milhão por uma biblioteca
digital que jamais foi entregue. Quase uma década mais tarde, as
autoridades ainda procuram uma maneira de recuperar o dinheiro.
Outro lado: Deputado diz que não há suspeita sobre sua atuação
O negócio foi feito em 2004, quando Chalita era secretário de Geraldo
Alckmin (PSDB), chegou a ser alvo de duas investigações paralelas dentro
do governo. Uma delas foi enviada ao Ministério Público, que apura os
prejuízos.
Chalita também é investigado em 11 inquéritos desde outubro do ano
passado, quando um ex-colaborador foi ao Ministério Público para
acusá-lo de cobrar propina de empresas que vendem para a Secretaria da
Educação. Ele nega as acusações.
Em valores da época, a biblioteca digital custou R$ 690 mil e foi paga
de uma vez só, apenas três dias depois da assinatura do contrato. O
dinheiro foi repassado a uma empresa de Miami, a E-Libro, numa transação
intermediada pela Unesco, o braço da Organização das Nações Unidas para
educação e cultura.
A aquisição foi feita com base num acordo de cooperação que Chalita
assinara com a Unesco para viabilizar investimentos de R$ 148 milhões no
programa Escola da Família, que previa a abertura de algumas escolas
estaduais nos fins de semana. A biblioteca, porém, não tem relação com
esse programa.
Por ser um braço das Nações Unidas, a Unesco não pode ser processada no
Brasil. A E-Libro também não, porque fica em Miami e não tem
representação no Brasil.
Chalita diz que a biblioteca não foi para frente por culpa de sua
sucessora, Maria Lucia Vasconcelos. A Unesco diz que houve problemas
técnicos, solucionados em 2006, e também atribui o fracasso ao
desinteresse da secretaria.
A biblioteca permitiria que os professores lessem no computador quase 40
mil obras de ficção e não-ficção em inglês, 4 mil em espanhol e só 400
livros em português.
Técnicos da secretaria que investigaram a compra concluíram que ela era
desnecessária, porque o governo já tinha uma biblioteca digital.
A investigação aponta que a E-Libro não conseguiu entregar uma tradução
para o português do programa que ensinava a usar o sistema. Técnicos
perderam mais de um ano para refazer a tradução.
A compra da biblioteca foi autorizada por dois dos principais assessores
de Chalita, segundo a investigação: Paulo Barbosa, seu
secretário-adjunto e hoje é prefeito de Santos, e Cristina Cordeiro,
chefe do Escola da Família.
O então candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB Gabriel Chalita anuncia Marianne Pinotti como sua vice nas eleições de 2012 |
A investigação mostrou que havia pressa. Em e-mail enviado no início do
processo a um departamento encarregado de examinar a proposta, Barbosa
escreveu: "Segue nesta mensagem o site da E-libro para sua análise.
Precisamos de uma resposta imediata".
O departamento sugeriu que pedissem uma apresentação "mais detalhada" do
produto, mas Barbosa contrapôs: "Já está autorizado, precisamos
agilizar isso."
O então diretor da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, chegou a ser
recebido na secretaria com um dos sócios da E-Libro. Um mês após o
início do Escola da Família, Werthein levou Chalita para falar da
experiência na sede da Unesco, em Paris. No ano seguinte a organização
premiou-o pelo programa.
As informações são do Jornal Folha de São Paulo
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