A cada dia, oito professores concursados desistem de dar aula nas
escolas estaduais paulistas e se demitem. A média de pedido de
exoneração foi de 3 mil por ano, entre 2008 e 2012. Salários baixos,
pouca perspectiva e más condições de trabalho estão entre os motivos
para o abandono de carreira.
Os dados obtidos pelo Estado por meio
da Lei de Acesso à Informação são inéditos. A rede tem 232 mil
professores - 120,8 mil concursados, 63 mil contratados com estabilidade
e 49 mil temporários.
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A
fuga de professores também é registrada na rede municipal de São Paulo,
mas em menor escala. As escolas paulistanas têm média de 782
exonerações por ano desde 2008.
Proporcionalmente ao tamanho das
redes, o índice no Estado é duas vezes maior. Além disso, a capital
conseguiu ao longo dos anos ampliar em 12% o número de efetivos,
enquanto a rede estadual tem 10 mil concursados a menos do que em 2008.
Os
docentes que abandonaram o Estado migraram para escolas particulares,
redes municipais ou dão adeus às salas de aula. O bacharel em Educação
Física Marco Antonio Uzunian, de 30 anos, decidiu ser instrutor de uma
academia e hoje também trabalha em uma empresa.
Apenas um ano em
uma escola estadual na Vila Carrão, na zona leste da capital, foi
suficiente para ele desistir. Uzunian é um dos 2.969 efetivos que
pediram exoneração só no ano passado. É o maior índice desde 2008. "Na
escola eu não conseguia tocar um projeto de verdade, não tem apoio nem
companheirismo", diz.
O bolso pesou na decisão. Depois de
concursado, só pôde pegar uma jornada de 10 horas. "Eu não tive opção de
jornada maior. Essas 10 aulas me rendiam R$ 680." A Secretaria da
Educação não respondeu por que há limite de jornada para novos docentes.
Crise.
Nem a estabilidade do funcionalismo público tem impedido demissões.
Formado em Matemática pela Federal do Paraná, Fabrício Caliani ingressou
na rede estadual em 2004. Abandonou em 2009 para ficar em escola
particular. "Escolhi ser professor por vocação e faço meu trabalho bem
feito. O que eu ganhava até me aposentar não ia compensar enfrentar tudo
isso", diz ele, que dava aula em Bastos, no interior paulista.
Mesmo
sem ter emprego em vista, Eduardo Amaral, de 39 anos, pediu exoneração
em abril de 2012 - depois de 8 anos na rede. "Para além da questão do
salário, jornada e condições de trabalho adversas, tem o dia a dia da
escola. É um ambiente hostil", diz ele, que hoje trabalha na Câmara
Municipal de São Paulo.
Professor da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portella considera os dados
muito altos. "Temos reconhecido que a questão-chave da educação é o
professor, mas precisamos ter atratividade de carreira, boa formação,
retenção e avaliação", diz.
A Secretaria da Educação defendeu que o
número de exonerações representa só 1,63% do total de efetivos. Em
relação à diminuição do número de efetivados, a pasta argumentou que
aposentadorias, mudanças e mortes devem ser levados em conta. O governo
não informou quantos concursos realizou desde 2008.
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