quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

"O medo de Pedro" em pleno governo Petista

 Eu só sei de uma coisa amigo - polícia não deveria estar nas ruas para espancar ninguém; Nem jornalistas, nem estudantes, nem professores, nem bandidos se você quer saber!

Na noite anterior ao dia em que daria entrevista para este blog, o jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, 27 anos, sonhou que a polícia invadia a sua casa. Seis meses depois, ainda é difícil falar sobre o que aconteceu na noite do dia 11 de Junho de 2013, quando ele foi espancado por seis policiais enquanto cobria os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Nenhuma narrativa é capaz de descrever a brutalidade gratuita que ele sofreu da Polícia Militar melhor do que as imagens abaixo, gravadas por alguém que registrava o protesto da janela. A violência começa no segundo 0:40.



Pedro andara do centro até a Avenida Paulista fazendo anotações para o Portal Aprendiz, onde ele trabalha como repórter. Perto do Masp, ele encontrara sua namorada e uma amiga. Alarmados com a violência ao redor, o grupo tentava ir embora quando a namorada e sua amiga, assustadas, decidiram se refugiar na guarita de um prédio. No início do vídeo, é possível ver Pedro voltando para falar com elas quando é surpreendido pelo ataque gratuito dos policiais.

“Eu era só mais uma pessoa na rua. Quando ele começou a me bater, eu levantei as mãos e disse que era jornalista. Achei que tinha conseguido me desvencilhar, mas enquanto me afastava ouvi ‘esse é nosso!’. Fui pro chão e no chão fui agredido mais vezes. A pior agressão não está no vídeo. Bem na hora que a câmera se afasta, um dos policias me deu um soco na cara que semi-fraturou minha mandíbula”.

Pelo "crime" de estar na rua durante um protesto, Pedro ficou preso por três dias e foi indiciado por formação de quadrilha e dano ao patrimônio público. Outros 13 homens foram presos com ele naquela noite e responsabilizados por todos os atos de vandalismo que ocorreram na cidade.

“Tinha muita gente presa sem arbítrio na delegacia, era muita injustiça ao mesmo tempo. Tentei argumentar: ‘pelo amor de Deus me escuta, eu estava trabalhando e fui agredido’. Mas ninguém escutava. A sensação era de estar sendo triturado por um rolo compressor”. Pedro conta que um dos policiais foi transparente e confessou ao grupo que eles seriam usados “como os corinthianos de Oruro: vão pagar pelos outros” - em referência aos torcedores do Corinthians que ficaram presos por meses na Bolívia depois que um sinalizador da torcida matou um menino de 14 anos.

Além de Pedro, mais dois jornalistas foram levados para delegacia, um do portal UOL e outro do jornal Folha de São Paulo, mas eles foram liberados na mesma noite. “Além de ser de um veículo menor, tinha um fator forte contra mim: eu estava todo arrebentado. Eles não poderiam me soltar daquele jeito”. Nos 3 dias que ficou preso, Pedro não passou por um médico legista, procedimento obrigatório. Quando foi solto, as marcas já estavam menores.

Repórter dedicado à cobertura de direitos humanos, na prisão ele viveu a realidade que costuma denunciar em sua matérias. Primeiro, passou pelo humilhante procedimento de revista: sem roupa e apertado em uma sala com os outros presos, foi obrigado a abaixar e levantar três vezes enquanto os policiais gritavam. “Depois fomos levados para o 2o DP, onde as pessoas eram tratadas como lixo. Ficamos numa cela sem luz, cheia de cocô na parede, dormindo no chão e com cobertor cheio de sarna. Tinha um senhor doente precisando de remédios e cuidados, apodrecendo com uma bolsa de colostomia, só os outros presos cuidavam dele”.

Pedro foi libertado em 14 de junho por ordem da justiça, que não acatou a acusação de formação de quadrilha. Mesmo fora da prisão, ainda passou dois meses proibido de sair de casa à noite e aos finais-de-semana. Seu caso está em fase de inquérito e sua defesa está nas mãos de um advogado que se voluntariou a ajudar.
Pedro no dia da sua libertação Foto: Diogo Moreira/Frame/Estadão Conteúdo


Além do processo judicial e das marcas físicas, Pedro foi atingindo de outra maneira: foi violado em sua liberdade de sair às ruas. Ele nunca mais cobriu ou participou de um protesto com medo de que isso possa ser usado contra ele no processo. Essa é uma restrição especialmente grave para ele, pois Pedro é ativista de causas ligadas aos direitos humanos e, como tal, participava com frequência de manifestações. “A sensação é horrível. O Brasil passando por um momento histórico e eu trancado em casa, vendo tudo de longe, pela TV, com medo de que outras pessoas passem o mesmo que eu”.

É difícil não se perguntar se não era exatamente esse o efeito desejado pela ação policial. Além do ataque individual, casos como o de Pedro podem ter um efeito multiplicador, que é assustar outros manifestantes. Com a chegada de 2014, ano que promete ações de repressão ainda mais violentas contra os protestos relacionados à Copa, o medo de Pedro só aumenta. “Para mim, a perspectiva é de um ano tenebroso. Eles vão vir com ainda mais força, aliar esferas federais e estaduais. O ‘bem comum’ sendo a Copa e o ‘inimigo’ todos que estão na rua protestando”.

Ele coloca uma questão importante: qual é o grupo que oferece maior risco e deve ser investigado? Os “vândalos” que quebram vitrines ou os policiais armados que espancam inocentes? “Pessoas estão sendo incriminadas sem provas pelo vandalismo, enquanto nada acontece com os policias que agrediram as pessoas na frente das câmeras”.

O caso de Pedro é o terceiro levantado por este blog, que está acompanhando histórias de pessoas que foram presas ou agredidas simplesmente por estarem em um protesto. O primeiro caso foi de Rafael Braga Vieira, morador de rua condenado a cinco anos por portar Pinho Sol perto de uma manifestação no Rio de Janeiro. O segundo foi de Sérgio Silva, fotógrafo que perdeu a visão do olho enquanto registrava a ação da Tropa de Choque durante protesto em São Paulo.

Pedro entrou em contato com o blog depois de ler o caso de Rafael. Ele fez testes em casa e comprovou que o Pinho Sol não poderia servir como combustível, como argumentou o juiz do caso. Ele comprovou isso empiricamente ao jogar o produto sobre o fogo e constatar que o Pinho Sol, na verdade, apaga as chamas. “Mas nada disso importa. Rafael é pobre, preto, ele vai espiar. Teve o repórter que foi preso por portar vinagre [Piero Locatelli, da revista Carta Capital], e aí fizeram a ‘revolta do vinagre’ para protestar contra a injustiça. Mas quando um morador de rua é condenado por portar Pinho Sol o que acontece? Nada”.

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