"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário" (George Orwell)
sábado, 22 de março de 2014
MTST recebeu R$ 89 milhões do Minha Casa Minha Vida
Promessa de construção de moradia com verba federal aumenta adesão a ocupações do braço urbano do MST
SÃO PAULO — Os recursos do
programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) começam, indiretamente, a
alimentar a ocupação de terras em várias cidades do Brasil pelo
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o braço urbano do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A entidade, que ocupa
terrenos vagos, já conseguiu cerca de R$ 89 milhões para construir cerca
de 1.600 moradias em três estados: São Paulo, Pernambuco e Goiás.
Segundo Zezito Alves da Silva, um dos coordenadores do movimento, também estão garantidos recursos para erguer 300 moradias em Roraima e mais 900 no Tocantins.
O
Ministério das Cidades não autoriza projetos em terrenos irregulares.
Por isso, cresce a pressão do MTST para forçar a desapropriação de
terrenos que considera latifúndios urbanos. Ontem, o MTST reuniu seis
mil pessoas numa manifestação na Zona Sul de São Paulo, que parou a
Marginal Pinheiros, para protestar contra a decisão da prefeitura de São
Paulo de suspender qualquer desapropriação na cidade. Os manifestantes
fazem parte do acampamento Nova Palestina, no Jardim Ângela, periferia
da cidade
A
possibilidade de conseguir moradia por meio do MTST tem feito aumentar a
adesão de sem-teto ao movimento. Segundo a própria entidade, são cerca
de 40 mil famílias no país — quase 20 mil apenas na Grande São Paulo. Ao
contrário dos acampamentos rurais, onde os sem terra permaneciam no
local meses a fio, nos acampamentos urbanos as famílias montam barracas,
mas a maioria fica vazia. A obrigação é apenas fazer revezamento no
local, para manter visível a presença do MTST. Só fica no acampamento
quem está realmente na rua. Boa parte dos acampados segue diariamente
para suas moradias atuais — casas alugadas ou de parentes, por exemplo.
A verba pleiteada pelo MTST é do MCMV-Entidades. O Ministério das Cidades habilita entidades sem fins lucrativos
para pleitear recursos, e elas podem escolher os beneficiários. Por ser
um movimento social, sem Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ),
o MTST não pode obter diretamente os recursos e utiliza associações
habilitadas. Em Pernambuco, por exemplo, as verbas foram direcionadas
para a Associação de Apoio aos Sem Teto e para a Associação Habitat para
Humanidade.
Em São
Paulo, a entidade habilitada a gerenciar a construção de 348
apartamentos em Taboão da Serra — um projeto de R$ 29 milhões — é a
Associação dos Moradores do Acampamento Esperança de um Novo Milênio. A
associação foi criada por Zezito Silva em 2002 para negociar um terreno
ocupado por apenas 42 famílias em Itapevi, na Grande São Paulo. Funciona
numa das casas precárias da ocupação, apontada por vizinhos como
residência de Silva. No local, acessado por viela, algumas pessoas dizem
que só alugam a moradia e estão ali há pouco tempo. Outros dizem que
apenas Silva pode falar sobre a situação da ocupação.
—A
associação não tem nada a ver com o MTST. É uma associação legal e pode
pleitear verbas do Minha Casa Minha Vida — diz Silva, um dos
coordenadores do MTST.
Segundo
Silva, a Associação comprou o terreno de Itapevi por R$ 40 mil, mas não
há escrituras individuais porque cada família ficaria com 50 metros
quadrados de área, abaixo do limite mínimo estabelecido pela lei
municipal, de 125 metros quadrados.
De
2009 para cá, quando foi lançado o MCMV, a entidade cresceu. Abriu
filial em Brasília e firmou convênios com prefeituras, como Embu e Santo
André. A virada ocorreu em 2011, quando o estatuto foi adaptado para
pleitear recursos federais: incluiu entre as finalidades exercer
atividades de provisão habitacional, prestar serviços de assistência
técnica/trabalho social ou agente promotor de habitação de interesse
social. Pode comprar, vender, tomar empréstimos e usar linhas de crédito
federais, estaduais e municipais. Embora a ata da assembleia que
incorporou as mudanças seja de 2011, ela só foi protocolada no Cartório
de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoas Jurídicas de Itapevi
em abril de 2012.
Guilherme
Boulos, da coordenação nacional do MTST, afirmou que o movimento usa
mais de uma associação, mas que as regras são rígidas, o que faz com que
a associação de Itapevi sirva de “guarda-chuva”. O Ministério das
Cidades informou em nota que associações locais podem ser usadas por
movimentos nacionais, como o MTST, e pleitear recursos do MCMV
Entidades, que já investiu R$ 626,4 milhões para atender famílias com
renda de até R$ 1.600 por mês. A maioria dos projetos, informou, é ainda
vinculada a prefeituras, que cadastram beneficiários.
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