Bernardo Guimarães Ribeiro é autor do livro "Nadando Contra a Corrente" |
Por Bernardo Guimarães Ribeiro
Nós, homens baianos, ainda estamos atônitos e perplexos com o desrespeito levado a efeito pelo estado da Bahia, por intermédio da sua Secretaria de Política para Mulheres (http://www.mulheres.ba.gov.br/), com a campanha “masculinidade tóxica”. Segundo referida campanha, evidentemente financiada com dinheiro público, a masculinidade seria algo nocivo e, portanto, tóxico, sendo a causa do machismo que precede a violência.
Estabeleçamos, a priori, uma premissa, ignorada - inconsciente ou propositadamente - pelos ideólogos: a masculinidade é uma condição do homem, consequência do nascimento com a dupla de cromossomos sexuais na configuração XY. Disso decorre que a masculinidade, ao reverso de comportamentos sociais adquiridos, é uma condição inata do ser humano homem. Com a presente premissa pretendo afirmar que a campanha é criminosa, pois se apoia num elemento indissociável da própria condição humana. Guardadas as devidas proporções, é como se ter um pênis fosse, por si só, motivo para incriminar o homem.
imagem: site governo do estado da Bahia |
Ao criar uma campanha estabelecendo como causa para a violência uma suposta masculinidade tóxica, o estado da Bahia generaliza o comportamento do homem, atingindo e ferindo sua dignidade. O feminismo, ao passo que reconheceu na mulher um ser coletivo coparticipante de um grupo com interesses e realidades comuns, partiu em desabalada carreira a suprimir do homem o mesmo sentimento de pertencimento e escancara esse desprezo ao associar genérica e irresponsavelmente a violência ao sexo masculino.
O machismo, como comportamento social, pode (e até deve) ser criticado e desconstruído. Mas o machismo, enfatizo, é um elemento cultural, nocivo em grande medida às mulheres, mas igualmente compartilhado por elas. Como traço cultural, o machismo impregna a sociedade, não isentando sequer as mulheres nesse processo. Disso deriva a noção de que o combate ao machismo DEVE ser uma luta de ambos os sexos, algo desconsiderado pela Secretaria de Política para Mulheres do estado da Bahia, numa clara evidência de que promove deliberadamente uma ação apenas CONTRA o homem.
feminismo tóxico |
Quero dirigir minha indagação a você, pai e marido, que dá seu sangue pela família; que, a cada gota de suor ou hora despendida no trabalho, tem apenas em mente a melhoria de vida da sua família; você, que, para não ver um filho cair nas drogas, precisou ser duro em sua criação; você, que, diante de um assalto, para proteger filhos e esposa, precisou arriscar a SUA vida; você que, ao ser rigoroso na educação deles, visou apenas ao melhor em suas vidas. Mas quero também a reflexão das mulheres: seus pais, que lhes deram proteção, física e emocional, amor, cuidado, confiança, carinho, respeito e ensinamentos para a vida são tóxicos? São seus inimigos? De que forma vocês, mulheres, veem seus pais, irmãos, esposos e filhos? Pessoas tóxicas por serem homens?
O estado da Bahia promove com essa campanha não só o desrespeito aos homens, mas a completa desinformação sobre o seu papel ao longo da história. Milhões e milhões de homens perderam suas vidas nas guerras ocorridas em todas as civilizações humanas. É por nós desconhecida qualquer civilização em que mulheres tenham sido sacrificadas para a preservação dos homens. Não. Em todas as civilizações estudadas até hoje prevaleceu justamente o altruísmo masculino, sujeitando o homem aos horrores da guerra, não raro redundando numa dizimação completa da população masculina ainda jovem. A narrativa da opressão masculina parece desprezar a história da humanidade, aquela dos homens que deram suas vidas por suas mulheres e filhos – o escritor Júlio José Chiavenato explica que a Guerra do Paraguai provocou uma carnificina jamais vista na América Latina, deixando o Paraguai numa situação até hoje não recuperada, quando, durante a referida guerra, morreu cerca de 90% da população masculina maior que 20 anos (http://g1.globo.com/…/apos-150-anos-estopim-da-guerra-do-pa…). Este é apenas um exemplo dentre milhares.
A masculinidade é tóxica ao impor apenas ao homem a obrigatoriedade de alistamento militar? A masculinidade é tóxica quando comete ao homem a exclusividade no exercício de profissões perigosas, como o trabalho em minas subterrâneas, em redes elétricas, em ferro-velho e siderurgia, em operações marítimas e submarinas, em atividade policial ostensiva, em transporte de valores e vigilância, de pescadores em mar aberto e de motoristas de táxi e aplicativos? A masculinidade é tóxica quando destina ao homem a execução de profissões insalubres, como o trabalho de gari, recicladores de lixo, frentistas e dos trabalhadores em indústrias químicas? A masculinidade é tóxica quando um País inteiro é transportado pelas mãos dos homens no penoso trabalho de motoristas de ônibus, de caminhões e carretas? É tóxica a masculinidade em relação aos acidentes de trabalho que acometem os homens mais que o dobro em relação às mulheres?(https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5315#resultado). Onde está a masculinidade tóxica quando 82% dos moradores de rua são homens (http://www.ibge.gov.br/…/estatistica/pesquisas/pesquisa_res… ) e quando estes cometem 3 vezes mais suicídios que as mulheres?(http://apps.who.int/gho/data/view.main.MHSUICIDEv?lang=en )
A campanha realizada pelo estado da Bahia abraça indisfarçadamente a vertente extremada e radical do feminismo, que tem no homem a representação do anticristo, a antítese do bem, o senhor de todas as maldades e, para a sustentação dessa narrativa, toma a exceção pela regra. A intenção passa ao largo de proteger a mulher, mas, ao reverso, visa a simplesmente demonizar e desconstruir a figura do homem, desconsiderando a existência também de mulheres más, perversas, cruéis, insensíveis e pedófilas no mundo, a despeito de nenhuma delas possuir a tal masculinidade. Ao abandonar a terminologia machismo e adotar masculinidade, a guerra ao homem foi declarada sem qualquer cerimônia. A tentativa de implantação de uma visão de mundo maniqueísta já foi tentada ao longo da história com operários e patrões, negros e brancos, entre outros. Essa é apenas mais uma investida não contra o homem, mas contra a humanidade, aviltando a eterna cooperação e a imortal colaboração que permearam as relações entre homens e mulheres.