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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Artigo: Aos ilusionistas e aos hipnotizados, em três atos


por Bernardo Guimarães Ribeiro
1º. Só o mau caráter mal intencionado ou o perfeito idiota – ou ambos – pode alegar que opositores ao atual marketing do Esporte Clube Bahia são preconceituosos. Sim, a mais nova artilharia da trupe que se apossou do NOSSO clube é imputar aos seus adversários a pecha de racistas, machistas e homofóbicos. Estamos vacinados. O mínimo que se pode dizer desses é que a ignorância é uma dádiva e ver o mundo em preto e branco conforta mentalmente cérebros de parcas potencialidades. O estratagema lulopetista falhou no Brasil e não tardará a falhar com vocês!

O grupo que dirige o soviete denominado Núcleo de Ações Afirmativas escolheu como modus operandi o clássico comunista “dividir para conquistar”. É com base nesse preceito que, a pretexto de ceifar a homofobia, pretende criar um setor especial do estádio para uma “torcida LGBT” (sabe-se lá o que seria isso!). Assim, onde antes se misturavam torcedores de todos os credos, sexos, orientações sexuais, etnias e raças, agora teremos a introjeção de uma política fascista sob vestes antifascistas. Chocados? Sim, apesar da hodierna acepção enviesada do termo, toda forma de dividir, segregar e reduzir comunidades em guetos constitui um traço fascista. De outro plano, o único ponto de interseção entre cada torcedor e suas idiossincrasias é a paixão pelo clube. As tentativas de explorar aspectos externos desse amálgama reforçam, contrariamente, caracteres de divergência, redundando inelutavelmente no desastre da divisão.


2º. Mentem o Presidente e os “Conselheiros do Amém” ao alegar (em sua defesa) que os departamentos de futebol e marketing são estanques, e não interdependentes. Essa é uma falácia que contradiz a aritmética mais elementar. Qualquer neófito do curso de Administração de Empresas sabe distinguir entre centro de custo e centro de resultado. O marketing de uma organização, por mais que possa potencialmente capitalizar em seu favor, é sempre um setor de custo, onde se alocam recursos sem qualquer retorno imediato. Não à toa, em tempos de crise, é o primeiro a ser “enxugado”. Assim, o centro de custo não é uma abstração, como tenta nos fazer crer a diretoria ilusionista; o departamento de marketing é um setor que demanda pessoas, recursos materiais, energia e tempo, tudo isso conversível no bom e velho dinheiro. E de onde sai esse dinheiro? Algum membro da diretoria trabalha por filantropia desenvolvendo ações afirmativas? Veículos de publicidade cedem seus espaços de forma gratuita? Há associados doando dinheiro especificamente para tais campanhas? Se temos respostas negativa para essas questões, então os mencionados ingredientes são, sim, drenados da atividade fim, o futebol.

Não adianta negar essa interferência quando seu técnico fala mais sobre racismo do que sobre tática, plano e esquema de jogo ou quando seu presidente torna-se um grande propagandista do marketing social que não ganha jogo nem título, mas acalenta uma legião de jornalistas progressistas. Nosso atávico complexo de vira-lata não se contém diante dos elogios sulista e sudestino ou da grande imprensa, mesmo sabendo que eles estão se lixando para o futebol baiano – querem apenas nos usar como veículo de disseminação barata da sua ideologia. Não é por outra razão que vemos os programas de entrevistas com o presidente imersos num enfadonho jogo de faz de contas, no qual jornalistas ideologicamente engajados limitam-se a “levantar para o entrevistado cortar”.


Diante desse cenário, impossível negar que o futebol perca força, cedendo seu protagonismo a ações que refogem por completo ao escopo integrativo da torcida. Pior: com a drenagem de recursos para o todo poderoso Núcleo de Ações Afirmativas, como visto, outros setores perdem. Para ilustrar esse fenômeno, vemos hoje a divisão de base do ECB muito mal, seja nas competições, seja na revelação de jogadores, limitando-se a contratar atletas de outras praças como aposta. Interroga-se: a dita administração democrática do clube, tão cantada em verso e prosa, lançou mão de alguma pesquisa para saber se seus associados preferem financiar ações sociais de índole ideológica em detrimento da divisão de base? Não houve e nem espere.

3º. Inversamente ao que o Presidente disse em entrevista no seu último Bola da Vez, as atuais políticas de marketing do ECB tem, sim, forte viés ideológico e dissimular isso constitui o maior ardil da sua gestão. De fato, o combate ao racismo e à discriminação em todas as suas formas não é monopólio da esquerda; é propósito universal e civilizacional. Entretanto, o ECB vem-se utilizando dessa false flag para maquiar seu caráter ideológico. O processo de conscientização a respeito do preconceito em nada se confunde com as ações desenvolvidas. No formato como adotadas, elas acabam por reproduzir os movimentos políticos em sua essência. 

Veja-se, por exemplo, a ideia da torcida LGBT e sua camisa colorida: são dois símbolos políticos incorporados pela atual Diretoria – o movimento organizado e as cores. Os gays, lésbicas e transexuais existem na sociedade como indivíduos e, apenas em nome dessas pessoas de carne e osso, alguma ação de um clube de futebol faz-se legítima.  A partir do instante em que o clube abraça uma organização ou mesmo um movimento político, desnatura a mera ação social, politizando-a. O mero uso da bandeira colorida já implica necessariamente a adoção da ideologia, algo que a entidade máxima do futebol (FIFA), inclusive, proíbe expressamente.

Outro exemplo em que restou escancarado o propósito político e ideológico da atual gestão do ECB ocorreu em relação ao Dia do Índio. Naquela oportunidade, tratou-se não de homenagear os pioneiros da terrae brasilis, mas, ao reverso, de encampar disputas de terras a favor dos índios contra produtores rurais. Mas houve exceções e uma indígena reverenciada pelo clube foi Sônia Guajajara, vice da chapa de candidatura à Presidência encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL). Não obstante, como as máscaras nunca escondem tudo, o presidente deslizou no programa televisivo já mencionado e confessado, despudoradamente, ter dialogado com indígenas e que suas reivindicações eram no sentido de cobrar a demarcação das suas terras, pauta eminentemente política. Não fosse sua intenção meramente ideológica, por que, então, não conversara, também, com fazendeiros e pecuaristas envolvidos? Será que alguém, dentro das suas plenas faculdades mentais, acharia natural que, amanhã ou depois, uma outra diretoria abraçasse a causa dos latifundiários contra indígenas?


Ainda no referido programa, o presidente declarou que o ECB é um clube racista! Pasmem: ele afirmou categoricamente que o Bahia não é menos racista que o Corinthians. Baseado em que o maior dignitário do clube se arvora em proclamar essa heresia em nome do ECB? Quem ele pensa que é? Somos um clube da cidade mais negra não africana do mundo. “Nosso” estádio sempre esteve repleto de negros, mulatos e brancos, a apoteose da diversidade. Nossos jogadores e ídolos sempre gozaram de um espectro multicolorido e multirracial. O futebol já é, em si, uma das maiores usinas de inclusão sociorracial do planeta. Mais uma vez deparamos com o ideal divisionista dessa diretoria – método que intenta a problematização de uma questão para dela auferir vantagens. É como se, apenas a partir deles, o ECB tivesse um técnico negro e até torcida negra. Sim, agora o Messias ungido veio a nos libertar dessa maldita opressão. Não se iluda: querem que você acredite que existia um apartheid na torcida! 

Mas o repertório de absurdos não esgota. O episódio da camisa manchada de óleo fora precedido de uma postagem no Instagram oficial do clube reivindicando a responsabilidade dos envolvidos. Curiosamente (apenas para os incautos), a postagem fora realizada imediatamente após a notícia de que o MPF ajuizara ação contra a União (Governo Federal) perante a Justiça Federal por negligência, no mais puro oportunismo, isso para ser delicado. De igual forma, o time feminino aparece nas mídias com o slogan “jogue como uma garota”, mimetizando a fraseologia feminista do “lute como uma garota” e frequentemente utilizada por Manuela d’Ávilla (PCdoB). E não esqueçamos que o Dia da Consciência Negra teve como homenageado o capoeirista Moa do Katendê, cuja morte foi ardilosamente politizada, atribuindo-a a questões de divergência política envolvendo o atual Presidente nas últimas eleições, fato, inclusive, não comprovado no processo judicial.

Pautas igualmente humanitárias, como a iminência da greve da PM da Bahia, o dia dos professores e até o fechamento criminoso do Colégio Odorico Tavares, foram solenemente ignoradas pela atual gestão. Sim, se você ainda não percebeu, atente-se para o fato de que essas ações conflitariam com interesses diretamente ligados ao governo petista da Bahia. E mesmo o Dia dos Pais, dentro do departamento de marketing do Bahia, foi não uma homenagem aos pais tricolores, mas uma celebração ao não-pai, ou seja, às crianças órfãs. OK, é triste demais não ter pai ou não ter sido registrado por um, mas não teria sido mais justo um preito aos pais substitutos? Não. Festejar o macho opressor definitivamente não se adequa à política progressista antipatriarcado abraçada pelos ilusionistas. 

Tudo é milimetricamente planejado, mesmo quando parece não ser. E nisso há uma razão: eles querem parecer bonzinhos, a gente do bem, pessoas altruístas, desinteressadas, moralmente superiores e comprometidas com um mundo melhor, desde que saia absolutamente tudo dentro do script e num roteiro em que a personagem do torcedor é apenas de marionete ou boneco de ventríloquo.  E, você, que discorda e pensa o mundo de outra forma, deve ser subitamente descartado, achincalhado, escarnecido e moralmente assassinado, de preferência com uma lápide cujo epitáfio conste racista, machista ou o genérico fascista. Os ilusionistas não arredarão pé do seu propósito; já você tem a opção de sair da hipnose. Avante Esquadrão.

Bernardo Guimarães Ribeiro é escritor, promotor de justiça e amante do esporte clube Bahia