O diploma falso do Educador do Ano: o que sabemos e o que falta descobrir
Por Monise Cardoso (Revista Nova Escola)
Ainda não há responsáveis. Mas o educador apagou informações sobre a graduação. Polo da Universidade não tinha autorização para oferecer curso(Foto Diana Abreu) |
A surpreendente notícia estourou no início do mês. Wemerson Nogueira, ganhador do Prêmio Educador Nota 10 em 2016 e um dos indicados ao Global Teacher Prize, o Nobel da Educação, foi acusado de falsificação de documentos. Ele teria apresentado um diploma ilegítimo numa seleção de professores da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu). Com essa alegação, a Sedu abriu um processo contra o professor, que pode perder o cargo na rede estadual e ter de devolver os salários já pagos.
O
caso é complicado. As partes envolvidas – Wemerson e a Universidade
Metropolitana de Santos (Unimes), responsável pela emissão do diploma –
se apresentam como vítimas de falsários. Ao mesmo tempo, se negam a
esclarecer detalhes importantes sobre o que ocorreu. Manifestam-se
apenas por notas oficiais. A Sedu diz que o caso está com a Polícia
Civil. Essa, por sua vez, confirma que há uma investigação por
falsificação de diplomas, mas não fornece informações sob a
justificativa de não atrapalhar o trabalho.
Nos últimos 15 dias, a
reportagem de NOVA ESCOLA se debruçou sobre o assunto. Ainda não é
possível responsabilizar alguém pelo diploma falso, mas há fatos que
aumentam o mistério. Do lado da Unimes: o polo de Ensino à Distância
(EaD) em que Wemerson diz ter estudado não tinha autorização do
Ministério da Educação (MEC) para oferecer o curso de Licenciatura em
Química. Enquanto isso, o educador apagou do Facebook seu comunicado sobre o ocorrido e retirou de seu currículo as informações sobre a cidade em que teria se graduado.
Os fatos
Segundo Ricardo Ponzetto, advogado
da Unimes, Wemerson nunca foi aluno da instituição. Diz Ponzetto: “Não
temos nenhum registro dele como estudante. E a assinatura presente no
documento é grosseiramente falsa”.
Foi essa informação que a Unimes enviou à Sedu e à Polícia Civil do Espírito Santo, que investiga o caso.
A versão de Wemerson
O
que o professor afirmou em sua nota oficial é que ele teria sido
enganado. “Me dediquei dia após dia aos estudos, até me formar. Posso
provar que estudei, sim, e tenho documentos e evidências que comprovam
isso e, jamais usaria de má fé para me beneficiar”.
Em sucessivos
contatos por e-mail (Wemerson não tem atendido ao telefone), NOVA
ESCOLA pediu para ter acesso a essas evidências. O professor negou. Diz
seguir orientações do advogado para apresentar as provas somente na
defesa do processo. “Entendo que a universidade se diz vítima, mas eu
também fui”, afirma.
A versão da Unimes
Também em nota para a imprensa, a Unimes aponta para a ação de uma quadrilha de falsários.
Diz ter conhecimento de casos de diplomas falsos emitidos em seu nome
há um ano e meio. O advogado Ponzetto defende a tese de que um bando
estaria por trás das falsificações. “A Polícia Civil do Espírito Santo
está investigando a quadrilha desde 2015”, afirmou por telefone.
Fato novo 1: um polo irregular
Pelo
Facebook, Wemerson afirma ter cursado o EaD da Licenciatura em Química
numa cidade “na região de Colatina”, no interior capixaba. Em outro
trecho, cita o nome de Pancas, município a 60 quilômetros de Colatina. É
lá que ele teria feito as atividades presenciais do curso. Segundo matéria do G1 divulgada em 11 de maio, o professor chegou a descrever o local como “uma casa com computadores”.
A
questão é a seguinte: segundo o MEC, o processo de credenciamento da
Unimes em Pancas ainda está em andamento. Em 2015, a universidade foi
proibida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) de expandir suas
atividades por dois anos por atuar irregularmente em vários estados.
Em
2016, a instituição entrou com recurso para contornar a decisão do CNE e
voltar a atuar pelo país, inclusive em Pancas, em caráter provisório,
até que o processo de credenciamento fosse finalizado. O polo da cidade
recebeu a visita de uma equipe do ministério no fim de abril, como
registra o Facebook da instituição.
NOVA ESCOLA apurou que a Unimes opera na cidade há, pelo menos, cinco
anos. As informações são da assessoria de comunicação da Prefeitura de
Pancas, que falou com nossa reportagem por telefone.
De acordo
com o Ministério da Educação, uma universidade só pode atuar nos limites
do município em que foi credenciada. A Unimes ainda não tem
credenciamento em Pancas. Mas tem em Mucurici, município no norte
capixaba a 234 quilômetros de Pancas. De carro, são cerca de quatro
horas de viagem.
A universidade, segundo a assessoria de
comunicação da prefeitura, operaria em Pancas uma espécie de extensão do
polo de Mucurici, ofertando alguns de seus cursos. A Unimes precisaria
de autorização do ministério para fazer isso, mas, como dissemos, o
credenciamento não foi concluído até o momento.
Confirmamos por e-mail que a Licenciatura em Química é uma das opções em 2017.
Leia a integra da reportagem no link https://novaescola.org.br/conteudo/4980/o-diploma-falso-do-educador-do-ano-o-que-sabemos-e-o-que-falta-descobrir