Um assunto da Revista Exame causou "frisson", claro, mas apenas em quem não entende de metodologia da pesquisa científica.
O problema é que isso inclui 90% dos profissionais de saúde e praticamente 100% da população geral. No entanto é necessário que as pessoas entendam que nem tudo serve para tirar conclusões, como essa da manchete. É preciso entender que associação é uma coisa e causa e efeito é bem outra! Estudos observacionais, coortes, cortes transversais são excelentes para levantar hipóteses, mas nunca, sob nenhuma circunstância, podem dizer que uma coisa é a causa de outra. Isso porque neste tipo de estudo, não há intervenção, ou, pelo menos, não deveria! Há apenas observação de uma população sem isolar variáveis!
Entenda o exemplo: nos dias de hoje há um consenso de que comer gordura faz mal. Ainda que cientificamente isso já tenha sido exaustivamente refutado, a TV continua a afirmar tal sandice. Acontece que a fonte de informação da grande massa é a TV e não bons periódicos. Ou seja, ao longo dos anos, as pessoas que realmente se preocupam com saúde deixaram de comer gordura! Então se hoje eu for observar e coletar dados de uma população e quiser cruzar os dados de quem come gordura versus quem tem mais saúde, realmente vou achar uma correlação inversa! Não necessariamente porque comer gordura faz mal, mas porque as pessoas que a evitam pensando em saúde também são as que cuidam do corpo, praticam exercícios, tomam sua medicação de forma correta, usam cinto de segurança. Isso porque tratam-se de pessoas que realmente se importam e cuidam de suas vidas! "Mas como você pode afirmar isso?". Posso afirmar porque em vez de OBSERVAR, um estudo EXPERIMENTA, ou seja: divide pessoas em dois grupos e TESTA uma intervenção de comer gordura, por exemplo.
(adaptado)