Mostrando postagens com marcador Alienação; Contemporaneidade; Globalização;. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alienação; Contemporaneidade; Globalização;. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de maio de 2015

E meu colega continua andando a pé e pegando Buzú... ou a alienação dos metidos à besta!


Já há um bom tempo não compro relógio de pulso. Se pararmos para pensar por um segundo, sem ironia, hoje em dia tudo tem relógio. Celular tem relógio. Espelho tem relógio. Painel de carro tem relógio. Aparelho de som tem relógio. Relógio tem relógio. Mas então por que algumas pessoas insistem em comprar relógios suntuosos, caros, com, pulseiras do ouro? Nestes casos, o relógio perde sua função de tão somente informar as horas mas para servir como um objeto de ostentação de posse, de riqueza, de dinheiro, características marcantes de uma sociedade alienada. Pois bem!

Tenho um colega que comprou um carro novo. Normal, pois um veículo hoje em dia otimiza e muito o tempo, principalmente de quem trabalha em lugares diferentes no mesmo dia. Mas ai uma peça do carro quebrou, repito, uma única peça quebrou e ele não tinha condições de pagar o valor da peça nova, cerca de 3 mil reais, o que fez ao mesmo, embora tendo um carro novo, continuando andar a pé, ou de ônibus. Em seguida, após arrumar o veículo, teve o veiculo apreendido por que estava com débitos de licenciamento.

Eu me pergunto: não teria sido melhor para este meu colega ter um carro mais simples, usado, onde o mesmo tivesse condições de pagar os custos de manutenção e os encargos do DETRAN? Qual a lógica, senão a de uma personalidade contaminada por um alto grau de alienação, de se possuir um bem que não se tem, por parte do seu detentor, nenhuma condição de mantê-lo. E o que é pior, a troco de quê?

Assim como usar relógio, pelo menos para mim, é completamente desnecessário nos dias de hoje, comprar um carro novo sem ter condições de colocar sequer o combustível, é absurdo!

Nos estudos da filosofa húngara Agnes Heller, citada na obra "Sobre o Construtivismo" do professor Newton Duarte, em sua fase ainda marxista, a mesma afirma que as sociedades tradicionais tem tão somente na necessidade ou carência de algo o impulso para o consumo ou aquisição de algo. 

Segundo a filosofa húngara, as sociedades pré-capitalistas orientavam-se
para o passado. Numa estrutura social como aquela, portanto, a tradição adquiria uma maior importância. E, deste modo, a vida das gerações daquela época orientava-se, essencialmente, pelas atitudes, pelos valores, dos seus antepassados. Com o advento da ascensão da burguesia e  a consequente modificação nas estruturas sociais,começa a se impor uma nova forma de orientação: o futuro é quem passa a guiar a vida dos indivíduos.  Com o capitalismo, a produção humana se torna indefinida, não se limitando mais
ao essencial, a satisfação das necessidades imediatas dos homens. Isto, por sua vez, determina nos homens uma necessidade de modificarem, renovarem, transformarem continuamente, tanto a si mesmos quanto a própria sociedade e esta necessidade de transformação, segundo Heller, seria uma das maiores conquistas da humanidade. Todavia, com a crescente alienação, fenômeno este intrínseco às relações capitalistas de produção, deu-se também a alienação  desta forma qualitativamente nova de guiarmos nossas vidas. A orientação para o futuro aliena-se e transforma-se em moda, na necessidade
de não ficarmos atrasados em relação aquilo que esteja na moda, ao que existe de novo na nossa sociedade. Portanto, a moda e os modismos são sempre e necessariamente fenômenos de alienação. Em outras palavras, um olhar alienado para aquilo que se apresenta como o que há de novo na sociedade. Para Heller, esse processo  teria relações diretas com a estereotipia dos sistemas funcionais da nossa sociedade, com a conversão de certos tipos de comportamentos, na sociedade burguesa, em "papéis"


 Sobre o construtivismo:  contribuições a uma análise crítica Newton Duarte (org.).
Campinas. SP: Autores Associados, 2000. (Coleção polêmicas do nosso tempo: 77)

Se pensarmos os modismos e aqui não me refiro a apenas um ou outro modismo,veremos incrustado nele um forte apelo ao consumo, ao fetiche representado pelo consumo e seu significado perante o poder do capital. Juntemos isso ao prazer hedônico de uma sociedade frenética e superficial, teremos o prato feito das relações ligeiras, dos amores "líquidos" e de uma humanidade patológica dos dias atuais onde o ter é mais importante do que o ser!

E meu colega continua a pé e pegando ônibus...