É muito ruim estar na situação em que estou. Amo o meu país assim como gosto de futebol, como a maioria também. É fato que como eu muitos espalhados pelo pais compartilham das mesmas angústias. Se eu fosse ainda marxista (e ate isso essa porcaria chamada de PT conseguiu me tirar) diriam que essa angústia se assemelha a secular angústia do marxista pelo estabelecimento da revolução, o "ideal" versus o "real" e das contradições históricas que permeiam a sociedade. Não, não é isso!
Mas no jogo de hoje Brasil x Chile percebo o quão sutil é torcer por um esporte em particular que é paixão nacional - o futebol - e separar emoções pra entender de forma bem clara que o país, a nação que está por trás dessa modalidade esportiva, é coisa bem diferente. Colaboram nessa confusão
mental e nessa minha angústia os exorbitantes gastos realizados na
preparação para a concretização desta copa do mundo em nosso país em
contraposição aos dados que não coadunam com os gritos de "melhor do mundo", "campeão", de
vencedor e de "Vai pra frente Brasil", em uma total inversão de prioridades. Vai?
Pra onde?
Regime Militar - Médici recebe craques tri campeões 1970
A história da política brasileira se mistura com a história do futebol - A despeito do grande uso político que tem sido feito dessa Copa do Mundo 2014 em um ano de eleições e isso não é demérito do PT mas infelizmente é a forma de se fazer política aqui no Brasil (não nos esqueçamos que o regime militar presenteou cada jogador campeão em 1970 quando voltaram do México com um fusca zero quilometro, com as chaves tendo sido entregues em mãos pelo então presidente Médici)
"O cenário político-econômico do Brasil influenciou, e muito, na escalação dos jogadores para Copas memoráveis como as de 70 e 74. O livro “O Mundo das Copas” (Lua de Papel, 2010), de Lycio Vellozo Ribas, conta tudo sobre os mundiais desde o surgimento do cartão vermelho até as interferências políticas nas seleções.
“Noventa milhões em ação. Pra frente Brasil. Salve a seleção!”. Esse “hino” marcou a campanha da seleção brasileira tri-campeã na Copa de 70 e rotulou o Brasil como um país grande e forte. A melodia entusiasmou com rimas de coração, emoção e paixão. Por trás da “corrente pra frente” havia uma intensa campanha política no auge da ditadura militar."
regime militar - Seleção brasileira com o presidente Médici 1970
Fato é que a alardeada sétima economia do mundo reputada ao Brasil não venceu, e o que é pior, já entrou perdendo a partida de hoje contra o Chile quando o quesito analisado é a Educação. Se o Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo segundo o seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), se é um dos países com as maiores e mais altas incidências de taxas de impostos do mundo (onde você não vê estes impostos devolvidos para os setores carentes da população) e se nos deparamos com denúncias escancaradas de roubos, desvios de verbas e de corrupção por parte de membros da cúpula do atual governo por sua vez o Chile é o país da América do Sul melhor colocado no relatório PISA (Programme for International Student Assessment) em um continente que amarga os piores índices educacionais de todo o mundo.
No Chile verificou-se que um dos principais motivos para tal feito no PISA é tão aparentemente banal e simples enquanto medida quanto fundamental no que se refere a constituição de qualquer planejamento educativo: uma maior participação das famílias na vida acadêmica de seus filhos. Aqui vale a velha frase de que educação começa em casa! No caso do Chile, a educação tem começo, meio e fim em casa, havendo condições de estabelecerem teias entre as famílias e a escola, e aqui nos referimos a escola pública. A criança chega em casa e tem apoio da família, inclusive, na resolução dos exercícios. Lhe é permitido isso! No Brasil, quantos pais de famílias se envolvem com a vida acadêmica de seus filhos estudantes de escolas públicas? Sou professor de escola pública e posso dizer que pelo menos no Estado da Bahia esse comprometimento tem deixado a desejar.
Tais dados do relatório PISA escondem a invisibilidade do visível de Foucault a Deleuze. Por si só são excludentes pois no momento de recrutar para o emprego em uma construtora aqui no Brasil nessa época de globalização e de crise política na Europa, por exemplo, a vaga será dado ao migrante francês, ao alemão, ao holandês e também ao chinês e ao canadense, estes últimos por sinal são dos paises melhores classificados no mesmo relatório PISA internacional, além da Finlândia, com índices zero de analfabetismo. Jovens que tem emigrado para o Brasil em tenra idade mas já chefes de obras, engenheiros recém formados com salários exorbitantes em tenra idade. Motivo? Formação educacional, preparo escolar! Precisa dizer aqui a absurda desproporção existente nos gastos, produção e qualidade de obras realizadas pelo método de um alemão por exemplo em contraposição ao método brasileiro? Isso levando-se em consideração gastos com material, produtividade e qualidade da obra!???
Não vão conseguir tirar meu amor pela minha seleção, muito menos pelo futebol. Se a ideia é esta, desistam. Mas também não vão conseguir fazer com que eu perca a capacidade de estabelecer os nexos críticos com a realidade.
Como educador, como cidadão e como patriota me reservo no direito de torcer para o Chile, que saiu de cabeça erguida e segue com respeito a cuidar de sua nação e de seu povo, torcendo mais ainda de que o meu pais, o Brasil, possa mudar as estatísticas assombrosas que o nivelam de forma tão medíocre, seja na necessidade de uma classificação para oitavas de final numa disputa de penalties (o que comprova a qualidade da seleção chilena), seja na reordenação de suas prioridades, sem a contaminação e uso político ideológico do esporte, seja numa melhor qualidade de vida para a maioria da população de forma equânime se consolide. Aí sim, torcerei pelo nosso país também no futebol!