Para evitar o abandono escolar, Secretaria Estadual de Educação de SP decidiu "apertar" as regras sobre o acompanhamento de faltas e reforçar o monitoramento às unidades
Para evitar o abandono Escolar no Ensino público em São Paulo, a
Secretaria Estadual de Educação decidiu “apertar” as regras sobre o
acompanhamento de faltas e reforçar o monitoramento às unidades em pior
situação. Resolução aprovada na última semana e publicada no Diário
Oficial do Estado obriga as Escolas estaduais paulistas a entrar em
contato por telefone com os pais dos estudantes quando estes atingirem
ausência em 10% das aulas.
Antes, este comunicado era feito ao atingir 20%, número próximo ao
total de faltas que causa reprovação automática (25%), o que diminuía o
tempo hábil para qualquer intervenção. O contato deve ser feito pelo
próprio diretor ou coordenador pedagógico. Além disso, as 30 unidades
com maior taxa de faltosos receberão uma força-tarefa de uma equipe da
secretaria para tentar “resgatar” os estudantes, além de emitir aviso
aos pais sobre as faltas via celular, por SMS. Se o projeto-piloto
destas Escolas for bem sucedido, mais unidades receberão o mesmo
tratamento.
A ação da pasta surge de um esforço do Estado de São Paulo para zerar
seu índice de abandono Escolar. Como a taxa já é a segunda menor do
Brasil - 5% em 2014 no Ensino médio, segundo o Ministério da Educação
(MEC) -, o número de estudantes que deixam os estudos tem ficado
praticamente estável. Em 2007, quando o dado começou a ser divulgado,
eram 6%. Já no Ensino fundamental o problema é menos impactante: a taxa
se manteve em 1,5% no mesmo período. Na rede privada, a média é menor do
que 1% em ambas as etapas.
No mesmo período, as redes estaduais do Brasil reduziram o abandono no
Ensino médio em 41%. Pernambuco, que tinha a segunda maior taxa no País
em 2007 (24%), é hoje o Estado com menor número de desistências - só
3,5% dos estudantes no Ensino médio. O Estado tem apostado nas Escolas
de tempo integral, que oferecem atividades extracurriculares, e também
no maior acompanhamento das famílias dos Alunos para manter o índice
baixo.
Perfil. Os principais motivos para deixar os estudos vão da necessidade
de arrumar emprego logo cedo ao desinteresse pelo formato das
disciplinas, longe da realidade do jovem. Um perfil detalhado desses
estudantes está sendo produzido pela secretaria e deve ser finalizado no
próximo mês.
Camila da Silva, de 18 anos, parou de estudar há cerca de um ano e meio
para trabalhar. Estava no 3.º ano do Ensino médio em uma Escola
estadual no Jardim Robru, na zona leste, mas não chegava a tempo nas
aulas após sair do trabalho, no Brás, região central. “Faltavam só
quatro meses para eu terminar o Ensino médio. Mas eu largava do trabalho
às 18 horas e só chegava na Escola às 20 horas. Para poder entrar na
segunda aula, tinha de chegar às 19h40. Não queria ter parado, mas
estava passando necessidade e minha mãe estava desempregada”. Hoje, ela
pensa em retomar os estudos e fazer Pedagogia.
O abandono Escolar tem repercussões ao longo da vida. Para trabalhar, a
operadora de telemarketing Érica Meira, de 41 anos, deixou a Escola
quando estava na 5ª série, na década de 1980. Só conseguiu acabar o
Ensino médio em 2013, depois de idas e vindas dos bancos Escolares. “Foi
duro entrar na cabeça que eu precisava estudar, a gente fica com
autoestima baixa", diz. Hoje, ela faz um cursinho popular e quer estudar
Ciências Sociais. “Fazendo curso superior a situação melhora. Por isso
estou na luta.”
Especialistas aprovam a medida da secretaria, mas dizem que deve ser
acompanhada de outras ações. Para o membro do Conselho Nacional de
Educação José Fernandes Lima é preciso mostrar ao Aluno a importância do
estudo. “É uma questão de custo-benefício. Ele assiste às aulas e não
consegue ver nada de imediato que possa ajudá-lo na carreira. Sem um
propósito, ele tende a desistir.” Priscila Cruz, diretora executiva do
movimento Todos Pela Educação, diz que a Escola precisa ser mais
atrativa. “Seria importante investir mais em campeonatos esportivos,
gincanas culturais. Isto ajuda o Aluno a querer ficar mais na Escola.”
Gargalo educacional. Não é de hoje que os adolescentes que queixam da
falta de conexão com a Escola. Praticamente nenhuma das redes estaduais
do País ouviu seu principal público interessado, os Alunos, para a
produzir seus documentos curriculares para essa etapa - apontada como um
dos gargalos educacionais do País. Essa foi uma das conclusões
apontadas em uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, a
pedido da Fundação Victor Civita, e divulgada na semana passada.
O estudo analisou 23 documentos curriculares e, dentre eles, dez de
forma mais detalhada, com entrevistas com servidores. Formação integral
dos jovens, currículo integrado e interdisciplinaridade e
contextualização aparecem em todos os documentos. Mas com um problema:
praticamente não se apresentam estratégias e caminhos de como efetivar
isso.
“Não existe a tentativa de integrar as disciplinas e áreas”, diz a
coordenadora do estudo, Gisela Tartuce. “A gente sabe que temos essa
necessidade de se aproximar dos jovens, mas nos documentos só aparece a
intenção”, explica.
Também há pouca uniformidade entre os documentos, até nas terminologias usadas. A pesquisa foi divulgada no momento em que o Ministério da Educação (MEC) trabalha na elaboração da Base Nacional Comum, documento em que vão constar os conteúdos que devem ser ensinados.
Gisela ressalta que as experiências já produzidas pelos Estados devem
ser aproveitadas. Para Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, a base
terá uma função importante de estabelecer de forma clara esses conteúdos
por séries. “É incontornável construir de forma consistente a Base e,
depois, tornar viável a implementação, quando teremos grandes desafios”,
diz.