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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Carta aberta ao ministro da Saúde

Jayme Ramos de Almeida Filho
Sou médico e trabalho no SUS em dois hospitais do Rio de Janeiro. Sou natural de Salvador. Conheço praticamente todo o interior do Brasil.

Gostaria de relatar minha indignação com as medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Está claro que o ministro não conhece a realidade do país e seus médicos.

Diz o ministro que temos 1,98 médicos para cada mil habitantes. Pode ser que esse dado seja exato, mas há muitos países com menos médicos por habitante (Chile, Equador, México, Austrália...) com sistemas de Saúde Pública melhores que o nosso.

O que nos falta são locais adequados e com infraestrutura para um bom atendimento; e remuneração digna para os profissionais, com plano de carreira.

O ministro diz que não se importaria de pagar a um médico a mesma coisa que um juiz do interior recebe. Um juiz no interior da Bahia, por exemplo, tem salário de R$30.000,00. Por que não oferecer o mesmo salário ao médico?


Isso, aliado a uma boa infraestrutura - um médico, sem a aparelhagem necessária para a realização de exames diagnósticos, ambulâncias para possíveis transferências, uma farmácia bem equipada, etc., não pode fazer nada - proporcionaria uma distribuição muito melhor de profissionais do que a que temos hoje.

Cito como exemplos a situação dos ambulatórios médicos de Canavieiras, (Bahia); de Codó (Maranhão) e de São José dos Ausentes (RS), locais onde os postos de saúde são como barracos de favela, com o chão de terra batida. Neles não há sequer um aparelho de radiografia.

No caso de São José dos Ausentes, até sem luz elétrica! Será que poderíamos considerar essas situações, que são comuns no interior do país, a regra e não a exceção, dignas tanto para os pacientes quanto para o profissional? A resposta é não.

Acredito que o ministro desconheça essa realidade já que desde estudante, de acordo com sua biografia disponível na internet, ele estava mais preocupado em liderar movimentos estudantis e atuar como coordenador nacional de campanha do PT (tendo Lula como candidato) do que a se dedicar efetivamente à profissão.

Ele ainda deve explicações sobre seu diploma de especialização: há evidências de ter sido forjado. Sei que não é necessário ser médico para ser ministro da Saúde, mas se há mentira nesse detalhe, será que podemos crer que no discurso oficial não haja outras inverdades?

Acho muito fácil qualquer pessoa dizer que sabe o que é melhor para o SUS, quando essa pessoa não trabalha ou usa o sistema. E tenho certeza que tanto nosso ministro quanto nossa presidente contam com planos de saúde privados.

Leia a íntegra em Carta aberta ao ministro da Saúde

Jayme Ramos de Almeida Filho, cirurgião geral no Hospital Miguel Couto e cirurgião vascular no Hospital Souza Aguiar, ambos no Rio de Janeiro.