Aprender é um processo prazeiroso? Ler uma obra de Machado de Assis, fazer cálculos para achar o quadrado em um triangulo escaleno ou entender o metabolismo da glicose, assim como a geologia no circulo polar ártico são ações prazeirosas?
A busca pelo prazer constante na relação de ensino aprendizagem não tira o caráter de "processo de trabalho" na educação formativa e não seria um espelho de nossa sociedade hedônica com suas ramificações na educação? Todo aprendizado é prazeiroso?
Estou reproduzindo entrevista da VEJA dessa semana que versa em sua reportagem a respeito de um livro de um professor indiano e o uso das novas tecnologia midiáticas na educação.
Fiquem a vontade para comentar pois tenho algumas considerações sobre o tema que perpassam muito além do computador e do tablet na sala de aula como instrumentos de melhoria na Educação.
Carlos Almeida
Nathália Butti
Agora em livro - Sal em frente à sua “academia”: ele narra suas descobertas como o mestre de milhões de alunos
(Gilberto Tadday)
O matemático americano Salman Khan, ou Sal, tornou-se o mais
bem-sucedido professor de todos os tempos sem nenhuma base teórica na
área da pedagogia nem trânsito no mundo dos especialistas em educação.
Aos 36 anos, ele nunca chegou a demonstrar ambição de se converter em um
grande pensador da sala de aula, mas vem se firmando como alguém com um
olhar muito pragmático e ácido sobre a escola. Sal não muda o tom em
seu recém-lançado The One World Schoolhouse: Education Reimagined, best-seller nos Estados Unidos, com chegada ao Brasil prevista para janeiro com o título Um Mundo, uma Escola
(Editora Intrínseca; 272 páginas; 29,90 reais). Preservando o estilo
coloquial e ao mesmo tempo assertivo de suas aulas - já vistas 200
milhões de vezes na rede -, ele expõe pela primeira vez de forma mais
organizada suas descobertas sobre o aprendizado. Incentivado pelos
colegas do Vale do Silício, onde fincou sua Khan Academy, até arrefeceu
um pouco o ritmo frenético com que produz conteúdo em quarenta áreas do
conhecimento - algo que parecia impossível para quem o conhece bem -
para concluir o texto sobre o qual se debruçou por dois anos. “Não tenho
a pretensão dos grandes teóricos, mas uma experiência concreta que
sinaliza para uma escola menos chata”, resume a VEJA o entusiasmado Sal.
O mérito número 1 desse jovem matemático que coleciona ainda graduações
em ciências da computação e engenharia elétrica e uma passagem pelo
mercado financeiro é mostrar que a transformação da escola - ainda
baseada no velho modelo prussiano do século XVIII - não requer nada de
muito mirabolante nem tão dispendioso. Sal é, acima de tudo, um defensor
do bom-senso. Ele infdaga: “Se todas as pesquisas da neurociência já
provaram que as pessoas perdem a concentração em longas palestras, por
que a aula-padrão é expositiva e leva uma hora?”. Suas lições virtuais
não passam de vinte minutos. Sal se declara ainda contra a falta de
ambição acadêmica, uma das raízes do fracasso escolar. “O aprendizado de
hoje é como um queijo suíço, cheio de buracos, e isso é estranhamente
tolerado. Os alunos mudam de capítulo sem ter assimilado o anterior”,
dispara com o mesmo ímpeto com que combate a monotonia na sala de aula.
“Enquanto o mundo requer gente criativa e com alta capacidade inovadora,
o modelo vigente reforça a passividade”, diz.
Uma de suas grandes contribuições é mostrar como a tecnologia pode
revirar velhas convicções sobre a escola, área em que ainda paira uma
zona de sombra - inclusive no Brasil. As iniciativas nesse campo
costumam se limitar a prover acesso a computadores e tablets sem que se
faça nada de verdadeiramente útil, muito menos revolucionário, com eles.
Sal aponta dois caminhos. O primeiro requer bons professores para
lançar na rede conteúdo do mais alto nível para ser visto de qualquer
lugar e no ritmo de cada um. De tão simples parece banal, mas ele
reforça que pode estar justamente aí a chave para um novo tipo de
escola. “A criança assiste em casa à melhor aula possível, e o tempo na
escola passa a ser usado de forma muito mais produtiva, para dúvidas e
projetos intelectualmente desafiantes”, explica. O outro caminho
descortinado por ele passa pela possibilidade que o computador traz de
monitorar o desempenho dos alunos em tempo real - algo que, se bem
aplicado, pode se converter em uma ferramenta valiosa. O próprio Sal
desenvolveu um programa que permite ao professor visualizar o desempenho
do aluno no instante exato em que ele resolve os desafios propostos no
site da Khan Academy. Assim que a dúvida aparece, e antes que as lacunas
se cristalizem, o mestre entra em ação. Os bons resultados de escolas
que começam a adotar o sistema são um sinal de que Sal envereda por uma
trilha acertada.
Um capítulo do livro é dedicado à sua própria trajetória e ajuda a
desvendar o que o fez percorrer o improvável caminho da docência. Sal
conta que achava “entediantes” as aulas na escola e, depois, no
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Começou aí a imaginar
maneiras de tornar o aprendizado mais atraente. Suas aulas fizeram
sucesso primeiro no círculo familiar, mas, ao colocá-las gratuitamente
na rede, em 2004, logo conquistou milhares de pessoas, atraídas pela
mescla de espontaneidade, entusiasmo e excelência. Fã incondicional da
Khan Academy, o fundador da Microsoft, Bill Gates, foi quem deu à mãe de
Sal alento em relação aos novos rumos profissionais do filho. “O dia em
que apareci na Fortune como o professor preferido de Gates foi
o primeiro em que minha mãe não fez cara feia por eu não ter cursado
medicina”, lembra um bem-humorado Sal. Defensor do básico - o bom
conteúdo bem dado -, ele tem uma utopia de escola em que a curiosidade e
a iniciativa sejam instigadas em grau máximo. De tão acelerado, faz
reuniões de trabalho enquanto se exercita e costuma pular refeições -
ritmo que contrasta com o do muito mais lento mundo da educação no qual
ingressou. “É preciso romper de uma vez por todas com a inércia”,
conclui.
O ídolo virou fã - “Só quando apareci na Fortune como o professor preferido de Gates minha mãe deixou de fazer cara feia”, conta Sal