quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre atiradores desmiolados e criancinhas abandonadas no lixo. Somos todos culpados!



Adoro filme de ficção científica. Dentre esses sempre fui aficcionado pelo seriado “Jornada nas Estrelas” (Star Trek). Em um desses episódios, Mr Spock, dotado de sua lógica muitas vezes irônica e sarcástica, usa de uma frase que tomarei por empréstimo afim de travar essa "briga" diálogo com o leitor. Nosso alienígena vulcaniano diz o seguinte:

“CULTIVAMOS A VIOLÊNCIA, MAS CONDENAMOS QUEM A PRATICA!”

Há alguns dias atrás completamos um mês do fatídico e cruel acontecimento do atirador da escola em Realengo no Rio de Janeiro e uma pergunta que não quer calar é: ”Será que ninguém percebeu que aquele pobre rapaz era um desequilibrado mental?”

Testemunhamos também através da mídia o abandono de criancinhas por parte de suas mães (eu sei, você pode até não achar, mas são mães) em lixeiras em cidades do interior de São Paulo e etc. Também aqui aquela máxima -  "Como pode ninguém saber ou ter percebido que aquela mulher iria cometer tal atitude?"

Isso nos alerta para outro dado importante que se chama: “Ouvir os ruídos”. 


Nós precisamos aprender a ouvir os ruídos! Ruídos? Como assim, ruídos? Que ruídos?

Sim, ruídos! Os ruidos que nos circundam a todo instante. Mas se segure aí que agora que vem o mais pesado. Antes mesmo de se perguntar a respeito dos motivos pelos quais aquelas pessoas agiram de forma tão deliberada e praticaram gestos tão horrendos deveríamos nos perguntar que tipo de modelo de sociedade que estamos construindo em torno dos nossos olhos que criam monstros capazes de façanhas as mais das piores compatível com os horrores que superam o que possamos imaginar na ficção?

Quando era  atleta tive a oportunidade de jogar basquete em diversos clubes no Estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Belém etc e em São Paulo capital cheguei a morar em um apartamento por mais de um ano no bairro da Praça da Arvore, próximo do Metrô que leva o mesmo nome e perto da sede do Esporte Clube Sírio libanês. Pois bem. Em um ano, isso mesmo, em um ano, o máximo de diálogo que consegui com a minha vizinhança era “bom dia” ou “boa noite” no elevador! Tudo bem que acordava 5:20 todos os dias. De volta ao apartamento somente à noite . Era difícil estabelecer muito vinculo de amizade. Era nessa correria que se vivia a vida! E hoje?

Que mundo estamos cultivando? Nesta sociedade de homens ligeiros, estamos incapacitados de ouvir os ruídos. É a banalização da vida! Seja o ruído do filho usando drogas carente de um abraço ou da filha adolescente grávida com um mundo desmoronando necessitando de um apoio para não ter que abortar. Seja um psicopata que foi "bulinado" na infância dentro da escola onde estudou e que planeja vingança, entrando e atirando contra criancinhas indefesas, seja uma mãe que carregou por 09 meses uma vida em seu ventre e que assim que deu a luz a essa criança não pensou duas vezes ao deixá-la dentro de um saco no lixo. 


Nessa sociedade dos homens ligeiros, eles em nenhum momento tiveram ou estão tendo amparo e acreditam que se desfazerem do mal que os incomoda, seja de que forma for, é o suficiente. A mãe desesperada em nenhum momento sequer pensou em, ao invés de socar a filha recém nascida no saco em um lixo, oferecê-lo à adoção no próprio hospital ou de pedir ajuda a alguma instituição que a apoiasse. 


Nessa sociedade de homens ligeiros, o psicopata não tinha sequer nenhum ombro que o amparasse e que traduzisse os gestos recônditos, as intenções  de um desequilibrado, descompensado.

Nessa sociedade dos homes ligeiros onde em pleno século XXI uma carro importado que alcança de 0 a 100 Km em 06 segundos não passa da mesma velocidade que uma carroça no século XVII em pleno horário do “Rush”, seja na avenida Rebouças, seja na Av. Getúlio Vargas aqui em Feira de Santana, ou em Quixeramubim, ou em Brasília ou em Tóquio.

O fato é que o nosso modelo de sociedade que  constrói estes monstros. "O Homem é o lobo do homem". Uma sociedade capitalista, egoísta, onde pessoas sentam em um barzinho e sentam o pé na "numero um" ou na "que desce redondo" mas incapazes de simplesmente sentar e conversar com o filho sobre como ele está indo na escola ou em sua vida pessoal! Falar mal da vida dos outros. Procuram saber o que fazem ou quanto ganham. Ou de perfume tal. Colocação do seu time no campeonato. Não que tais questões não devam compor o universo de nossas vidas, mas que não sejam só estas, que existam mais! Que sejamos mais...

Nessa sociedade de homens ligeiros proponha o contraponto - "A sociedade de homens lentos" E nessa lentidão entenda que os nossos atos e gestos não afetam somente a nós mesmos. Estamos todos interligados enquanto humanidade e, por exemplo, o meio ambiente está nos dizendo de forma avassaladora. Nessa lentidão sejamos capazes de ouvir os ruídos e intervir neles.

E ao fim de outro filme de Jornada nas Estrelas, quando o Mr Spock morre sob efeito de radiaçao na sala de máquinas da Enterprise, eu poderei lhe saudar e dizer: "Eu fui, sou e sempre serei seu amigo"

Life long and prosper!

Para além do que jamais fôra dito...

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