Por Mariana Almeida,
Quando vejo casos como o da Greve dos Professores da Bahia, me envergonho não apenas do meu Estado, como da profissão que eu escolhi.
É
ultrajante a posição do Ministério Público diante dos fatos. Não falo nem da
Justiça Estadual, que confesso não inspira a mínima confiança, ou mesmo
expectativas, pois já rasgou há muito a Constituição Federal e todas as demais
regras do nosso ordenamento jurídico. Quando estudo e vejo sobre a função
basilar da Separação de Poderes para a República, tenho crises de risos.
NUNCA viveremos uma situação onde quem manda
não será a Política, a vergonhosa área onde o poder deturpa a tudo e a todos. Por isso que digo que a Justiça Estadual,
especialmente a Baiana não consegue atuar com a imparcialidade que lhe deveria
ser inerente.
A podridão dos favores políticos está sempre
presente, com seu fétido cheiro de impunidades eternas. Mas agora ver o
Ministério Público, fiscal da lei, defensor da moral social, constitucional
"defensor da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis", de braços cruzados, ou melhor,
iludindo a população, pois depois de 92 dias de greves, de desmandos e descaso
da Governadoria da Bahia com a educação, sem nada fazer,
"intermediando" as negociações - para fazer valer uma lei vergonhosa,
para acobertar jogos políticos. Repenso minhas convicções, minhas escolhas para
o que eu quero fazer, sobre quem eu quero ser.
Ver
os fundamentos da decisão da Desembargadora do TJ da Bahia, que veio declarar a
greve ilegal, me dá náuseas. O Ministério Público PARADO! O STJ já se
manifestou a respeito, já emitiu recomendação. A Senhora Doutora Desembargadora
declarou a greve ilegal, porque OS PROFESSORES NÃO RESPEITARAM O DIREITO DAS
CRIANÇAS À ALIMENTAÇÃO, POIS EM MUITOS CASOS A MERENDA ESCOLAR É O ÚNICO
ALIMENTO DAS CRIANÇAS. ISSO É UM DISPARATEEE! Não comprem essa idéia! A
OBRIGAÇÃO DE IMPLEMENTAR POLÍTICAS PÚBLICAS NÃO É DO CIDADÃO, não é dos
professores que estão lutando para fazer valer uma lei FEDERAL, que estão
lutando para ter uma vida mais digna, que estão lutando contra a vergonha de
ter uma Câmara Legislativa que aprova uma lei ESTADUAL que está frontalmente de
encontro ao estabelecido em lei FEDERAL anterior, que coaduna com uma situação
onde o Governo diz não ter verba para pagar um aumento estabelecido em lei, mas
ALGUÉM TEM QUE FALAR PARA ELE, a verba é FEDERAL, e já está nas contas do
Estado, desde o começo, o FUNDEB está aí pra isso; e esses 6,5% que o Governo
diz ser a única coisa que têm a oferecer, que ofereça, não se discute isso,
pois esse percentual vêm de verba ESTADUAL, onde, sim, o Sr. Governador do
Estado da Bahia pode alegar que está pobrezinho, coitadinho.
A
culpa pelo fato do cidadão baiano NÃO TER COMIDA PARA COLOCAR NA MESA, não é
dos professores, profissão subvalorizada, mas que é a base de qualquer
sociedade CULTA, POLITIZADA. Nos países de "Primeiro Mundo", ser
professor é um orgulho, é status.
Não é
difícil perceber o porque de estarmos tão distante dessa qualificação, não é
mesmo? Mas, no PAÍS DO FUTEBOL pra que se preocupar em reajustar um salário que
não chega a R$ 8,00 hora/aula, não é mesmo? É mais fácil contratar uma equipe
especializada, para dar aula durante míseros meses, por R$ 250,00 hora/aula
para que os estudantes da rede pública estadual de ensino esteja
"preparada para o vestibular". É COMO SE MESES DE AULA "DE
QUALIDADE" FOSSEM SUBSTITUIR ANOS DE BAIXA QUALIDADE DE ENSINO, DE FALTA
DE ESTRUTURA PARA SE DAR AULA, PARA SE TER AULA, DE FALTA DE COMIDA NA MESA DOS
ALUNOS, DE PAIS DE ALUNOS QUE NÃO TIVERAM ACESSO À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, E QUE
MUITAS VEZES NÃO SABEM TRANSMITIR A SEUS FILHOS A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO.
Desde
pequena sei que o estudo é a base de tudo, isso porque meus pais, que nasceram
em cidades que não aparecem no Mapa da Bahia, onde não tem ruas asfaltadas até
os dias de hoje, que estudaram TODO o período letivo em escolas públicas,
aprenderam que para serem mais na vida tinham que se dedicar ao estudo. Pegavam
livros emprestados, viajavam para cidades vizinhas para terem aula, um ensino
"melhorzinho", quando as condições sociais era escassas. Naquele
momento a educação foi a esperança e o motivo da ascensão deles. Mas hoje me
deparo com uma situação em que, depois de 93 dias de greve, não sei quantas
DEMISSÕES DE PROFESSORES DO REDA, POR MOTIVO DE NÃO ACATAREM A DETERMINAÇÃO DO
GOVERNO DE FURAREM A GREVE E IREM PARA AS SALAS MINISTRAREM AULAS, QUE NÃO
ESTAVAM CAPACITADOS A PRESTAR; porque se ninguém cogitou essa possibilidade,
alunos do 3º ano estão a um nível mais elevado de domínio da matéria do que
profissionais recém formados, que não desenvolveram didática para ensinarem
alunos vestibulandos. Não se enganem, os alunos sabem que essas aulas deverão
ser repostas, e que de nada elas têm adiantando.
Ser
professor, é uma profissão nobre, é uma profissão básica, embora desmerecida, é
preciso empenho, estudo para se tornar um bom profissional, como em qualquer
outra profissão. Digo mais, VOCÊ NÃO SABERIA LER, ESCREVER, SE EXPRESSAR se não
fosse seu professor. Não haveriam médicos, advogados, engenheiros, jornalistas,
juízes, desembargadores, e porque não políticos, se não houvessem professores
capacitados, se todos esses profissionais não tivessem passado por diversas salas
de aula, aprendendo com os professores de ensino fundamental, de ensino médio,
pré escolar, de graduação, de pós graduação, de oratória, de reforço escolar,
de língua estrangeira, de culinária, de teatro, de educação física, de
especializações.
Sem
os professores, o que seriam das demais profissões? O que seria dos nossos
Tribunais, da nossa Desembargadora, do nosso Governador do Estado, de você?
Certamente, assinariam com o dedão, pois a por a impressão digital todos nascem
sabendo. Essa profissão não merece ser desmerecida. E enquanto o Ministério
Público, "custos legis" necessário, não entender isso, minha vergonha
continua. Por enquanto, melhor assistir Law & Order na TV, é mais
motivador.
Obrigada Carlos Almeida por postar esse excelente texto de Mariana Almeida. O texto reflete a indignação e vergonha de todos nós baianos.
ResponderExcluirMuito obrigada Mariana
Olá Mariana. Nã verdade lhe devo desculpas por tê-la publicado sem antes pedir sua autorização. Só que não tinha como nem sabia como entrar em contato com você, já que foi uma mensagem compartilhada de terceiros no facebook. Não há o que agradecer e fica aqui mais uma vez os meus sinceros pedidos de desculpas. Abraços e firme na luta.
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