No
momento em que acontece na cidade de Feira de Santana evento chamado de
Olimpíadas
Estudantis entendemos ser este um momento oportuno a fim de
estabelecermos aqui a crítíca necessária a eventos esportivos com este cunho que
acontecem dentro do município e do estado da Bahia como um todo, bem como a forma com que eventos desse cunho é fomentado sem o devido trato e responsabilidade.
Toda crítica pressupõe o entendimento do concreto. E o pior erro que se pode cometer ao criticar é se colocar enquanto não suscetível a esta crítica. Quero antes de qualquer coisa dizer que quando faço a crítica eu me insiro nela e enquanto educador, humilhado e execrado pela última greve dos professores da rede estadual de ensino, ex-atleta, falo do pedestal de quem viveu até bem pouco tempo com os pés dentro da escola e que saiu não por que deixou de acreditar nela, escola, mas por que o governo do estado da Bahia e a sua secretaria da educação não acreditam, tendo eu contas a pagar, uma dignidade a manter, uma família e uma mãe idosa a zelar.
Saio do
ensino público, não da Educação. Mas sei bem de sua realidade.
Dito isso, podemos dizer que o ministério do esporte e o governo federal nos deparam com políticas nacionais voltadas para o esporte que
dialogam com uma formação em direção a “desportivização” do esporte na escola
sem, no entanto, dar estruturas e condições para que esse esporte se
materialize de forma concreta e satisfatória e o que é pior, estabelece a
relação fragmentada de diálogo entre esporte escolar x ambiente escolar x
conteúdo didático de maneira a fomentar neste mesmo esporte a prática pela
prática sem a discussão crítica necessárias ao seu entendimento, a prática
pela prática do lazer sem a necessária discussão crítica em torno do lazer e,
consequentemente, do trabalho. O discurso de que o esporte promove saúde sem se discutir a respeito da temática da saúde.
Ao não estabelecer critérios e não reconhecer no trato do
esporte, um conteúdo didático legítimo da área de conhecimento de uma
disciplina dentro do ambiente escolar, não tratando-o de forma didática,
relegando-o a uma prática eminentemente empírica, sem dar condições estruturais
para que o mesmo se materialize, as secretarias de educação dos estados e nunicípios, o ministério do esporte e o seu falido e corruptor projeto
“Segundo Tempo” serão e permanecerão sendo agentes perversos de utilização do mesmo como ferramenta de alienação, sob a égide dos discursos ufanos propostos
pelos pressupostos do modelo da “saúde renovada” e da pseudo-inclusão social.
Muito se questiona com relação a formação “obtusa” a que são
submetidos os discentes e egressos dos cursos de formação em nível superior na área da Educação Física sob
a crítica destes não estarem formando professores ou profissionais aptos as
chamadas novas demandas sociais. No entanto, se nos pergutamos quais seriam estas novas demandas sociais? Ora, não seriam as
demandas sociais que obedecem à ótica e a lógica do modelo ou modo de produção
capitalista?
Vários autores como Forquim, Luis Carlos de Freitas, Fernando
Mascarenhas, Ana Caldeira, Manacorda, Newton Duarte entre outros denunciam uma
série de contradições entre os saberes e fazeres escolares, didática, dinâmicas
sociais e relação entre teorias da educação na relação capital X trabalho,
mundo do trabalho x mercado de trabalho que nos permitiria perguntarmos se dentro do currículo escolar a Educação Física é ou não um componente curricular. Em caso positivo, quais são seus conteúdos e objetos de estudos? De que forma lidam com a cultura em torno do corpo e aqui não me refiro a cultura corporal do movimento, mas a cultura corporal - a forma como o corpo se expressa, se expressou e se expressará dentro do seu contexto, no espaço a sua volta e dos valores que se sobrepõem ao mesmo?
Os PCNs garantem ao esporte o “status” de conteúdo didático
particular de uma área de conhecimento, a Educação Física, é verdade, muito embora este
não seja uma propriedade unicamente sua, ou seja, da Educação Física, mas sim
um legado, um fenômeno da cultura humana, uma manifestação de práticas
corporais inseridas na sociedade que podem sim serem usadas por outras áreas de
conhecimento ou até mesmo de forma interdisciplinar, transversal. Não apenas e tão somente para completar carga horária de professores de outras disciplinas. Na escola onde lecionava, antes de pedir pra sair, tinha, ou melhor, tem uma professora de matemática completando a carga horária dela com a disciplina Educação Física, mesmo tendo professor da disciplina educação física na escola.
As olimpíadas estudantis que ora ocorrem no município tem o poder de denuncia silenciosa, omissa e eu até diria "cínica" de mentir de forma escrachada à sociedade, as comunidades e as escolas de que o esporte é uma realidade na escola e que existe inserido dentro do cotidiano escolar. Isso é uma mentira. E como mentem. Não fica por aí. Os chamados Jogos estaduais tambem não ficam atrás disso. Pura ilusão.
A Secretaria Estadual da Educação da Bahia não
possue uma proposta pedagógica consistente com relação à área de conhecimento
da Educação Física, por exemplo, onde esta sempre é tratada como um apêndice no
âmbito escolar. Conceitos da década de 80 ainda são reproduzidos dentro do
entendimento de uma grande parte dos diretores de delegacias regionais de
ensino, de gestores, e de professores de outras áreas bem como descritos nos
projetos políticos pedagógicos das unidades de ensino. Some-se a isso a enorme
falta de estrutura das escolas para que praticas corporais que transcendam a
monocultura do esporte – futebol – desculpem futebol de salão - por que no caso
particular da cidade de Feira de Santana, uma das poucas escolas que possuíam
um campo de futebol de verdade em seu interior – O Colégio Gastão Guimaraes –
teve seu espaço estuprado, ocupado, arrancado dos alunos pelo governo do Estado
para que ali fosse construído um SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor.
Dessa forma, encontramos unidades de ensino depredadas, sem quadras, com
aparelhos de som quebrados e sem manutenção, sem bolas, sem indumentárias, sem
livros didáticos que permitam o fomento do esporte em sua grandeza, seja no
entendimento do mesmo enquanto fenômeno da cultura humana, seja na pratica
desportiva efetiva com a devida instrumentalização da pratica tática e técnica
que envolve o movimento sistematizado das diversas modalidades. Onde a dança? O
Teatro? A Capoeira? O Maculelê? O Samba-de-Roda? O Samba de Quixabeira? As outras
modalidades desportivas como o basquete, o vôlei, o atletismo, o handeibol etc? E a inclusão de portadores de necessidades especiais? Acessibilidade?
Este é o pais que quer irá sediar a próxima Olimpíada.
Será que isso não implica também na chamada formação “obtusa” do
egresso das universidades\faculdades das áreas de conhecimento que convencionou-se lidar com o esporte, ou seja, a Educação Física? Será que isso não implica, também, na delimitação dos
espaços do esporte da escola e na escola, delimitação no sentido de estabelecer que o mesmo não existe ou se existe é, por sua vez, muito mal tratado.
"Marcha soldado, cabeça de papel. Se não marchar direito, vai preso pro quartel."
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