quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Discurso ufano do esporte escolar e a utilização do desporto como instrumento de alienação das massas


No momento em que acontece na cidade de Feira de Santana evento chamado de Olimpíadas Estudantis entendemos ser este um momento oportuno a fim de estabelecermos aqui a crítíca necessária a eventos esportivos com este cunho que acontecem dentro do município e do estado da Bahia como um todo, bem como a forma com  que eventos desse cunho é fomentado sem o devido trato e responsabilidade.


Toda crítica pressupõe o entendimento do concreto. E o pior erro que se pode cometer ao criticar é se colocar enquanto não suscetível a esta crítica. Quero antes de qualquer coisa dizer que quando faço a crítica eu me insiro nela e enquanto educador, humilhado e execrado pela última greve dos professores da rede estadual de ensino, ex-atleta, falo do pedestal de quem viveu até bem pouco tempo com os pés dentro da escola e que saiu não por que deixou de acreditar nela, escola, mas por que o governo do estado da Bahia e a sua secretaria da educação não acreditam, tendo eu contas a pagar, uma dignidade a manter, uma família e uma mãe idosa a zelar. 

Saio do ensino público, não da Educação. Mas sei bem de sua realidade.

Dito isso, podemos dizer que o ministério do esporte e o governo federal nos deparam com políticas nacionais voltadas para o esporte que dialogam com uma formação em direção a “desportivização” do esporte na escola sem, no entanto, dar estruturas e condições para que esse esporte se materialize de forma concreta e satisfatória e o que é pior, estabelece a relação fragmentada de diálogo entre esporte escolar x ambiente escolar x conteúdo didático de maneira a fomentar neste mesmo esporte a prática pela prática sem a discussão crítica necessárias ao seu entendimento, a prática pela prática do lazer sem a necessária discussão crítica em torno do lazer e, consequentemente, do trabalho. O discurso de que o esporte promove saúde sem se discutir a respeito da temática da saúde.

Ao não estabelecer critérios e não reconhecer no trato do esporte, um conteúdo didático legítimo da área de conhecimento de uma disciplina dentro do ambiente escolar, não tratando-o de forma didática, relegando-o a uma prática eminentemente empírica, sem dar condições estruturais para que o mesmo se materialize, as secretarias de educação dos estados e nunicípios, o ministério do esporte e o seu falido e corruptor projeto “Segundo Tempo” serão e permanecerão sendo agentes perversos de utilização do mesmo como ferramenta de alienação, sob a égide dos discursos ufanos propostos pelos pressupostos do modelo da “saúde renovada” e da pseudo-inclusão social.


Muito se questiona com relação a formação “obtusa” a que são submetidos os discentes e egressos dos cursos de formação em nível superior na área da  Educação Física sob a crítica destes não estarem formando professores ou profissionais aptos as chamadas novas demandas sociais. No entanto, se nos pergutamos quais seriam estas novas demandas sociais? Ora, não seriam as demandas sociais que obedecem à ótica e a lógica do modelo ou modo de produção capitalista?

Vários autores como Forquim, Luis Carlos de Freitas, Fernando Mascarenhas, Ana Caldeira, Manacorda, Newton Duarte entre outros denunciam uma série de contradições entre os saberes e fazeres escolares, didática, dinâmicas sociais e relação entre teorias da educação na relação capital X trabalho, mundo do trabalho x mercado de trabalho que nos permitiria perguntarmos se dentro do currículo escolar a Educação Física é ou não um componente curricular. Em caso positivo, quais são seus conteúdos e objetos de estudos? De que forma lidam com a cultura em torno do corpo e aqui não me refiro a cultura corporal do movimento, mas a cultura corporal - a forma como o corpo se expressa, se expressou e se expressará dentro do seu contexto, no espaço a sua volta e dos valores que se sobrepõem ao mesmo?

Os PCNs garantem ao esporte o “status” de conteúdo didático particular de uma área de conhecimento, a Educação Física, é verdade, muito embora este não seja uma propriedade unicamente sua, ou seja, da Educação Física, mas sim um legado, um fenômeno da cultura humana, uma manifestação de práticas corporais inseridas na sociedade que podem sim serem usadas por outras áreas de conhecimento ou até mesmo de forma interdisciplinar, transversal. Não apenas e tão somente para completar carga horária de professores de outras disciplinas. Na escola onde lecionava, antes de pedir pra sair, tinha, ou melhor, tem uma professora de matemática completando a carga horária dela com a disciplina Educação Física, mesmo tendo professor da disciplina educação física na escola.

As olimpíadas estudantis que ora ocorrem no município tem o poder de denuncia silenciosa, omissa e eu até diria "cínica" de mentir de forma escrachada à sociedade, as comunidades e as escolas de que o esporte é uma realidade na escola e que existe inserido dentro do cotidiano escolar. Isso é uma mentira. E como mentem. Não fica por aí. Os chamados Jogos estaduais   tambem não ficam atrás disso. Pura ilusão.


A Secretaria Estadual da Educação da Bahia não possue uma proposta pedagógica consistente com relação à área de conhecimento da Educação Física, por exemplo, onde esta sempre é tratada como um apêndice no âmbito escolar. Conceitos da década de 80 ainda são reproduzidos dentro do entendimento de uma grande parte dos diretores de delegacias regionais de ensino, de gestores, e de professores de outras áreas bem como descritos nos projetos políticos pedagógicos das unidades de ensino. Some-se a isso a enorme falta de estrutura das escolas para que praticas corporais que transcendam a monocultura do esporte – futebol – desculpem futebol de salão - por que no caso particular da cidade de Feira de Santana, uma das poucas escolas que possuíam um campo de futebol de verdade em seu interior – O Colégio Gastão Guimaraes – teve seu espaço estuprado, ocupado, arrancado dos alunos pelo governo do Estado para que ali fosse construído um SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor. 

Dessa forma, encontramos unidades de ensino depredadas, sem quadras,  com aparelhos de som quebrados e sem manutenção, sem bolas, sem indumentárias, sem livros didáticos que permitam o fomento do esporte em sua grandeza, seja no entendimento do mesmo enquanto fenômeno da cultura humana, seja na pratica desportiva efetiva com a devida instrumentalização da pratica tática e técnica que envolve o movimento sistematizado das diversas modalidades. Onde a dança? O Teatro? A Capoeira? O Maculelê? O Samba-de-Roda? O Samba de Quixabeira? As outras modalidades desportivas como o basquete, o vôlei, o atletismo, o handeibol etc? E a inclusão de portadores de necessidades especiais? Acessibilidade?


Este é o pais que quer irá sediar a próxima Olimpíada.

Será que isso não implica também na chamada formação “obtusa” do egresso das universidades\faculdades das áreas de conhecimento que convencionou-se lidar com o esporte, ou seja, a Educação Física? Será que isso não implica, também, na delimitação dos espaços do esporte da escola e na escola, delimitação no sentido de estabelecer que o mesmo não existe ou se existe é, por sua vez, muito mal tratado.

Ao fomentar o discurso da esportivização do esporte na escola o governo municipal e do estado, alinhado a politicas ufanas e mentirosas do governo federal, se propõem a dar a este um lugar no qual esteve relegado em um passado não muito distante: instrumento de alienação dos corpos e das massas. Nada de educativo, nada de educação, nada de esporte de verdade. Só uma alienação coordenada, nada mais, uma vez que estes elementos não existem e nem coexistem na realidade do cotidiano escolar, muito menos do projeto político pedagógico da escola.
"Marcha soldado, cabeça de papel. Se não marchar direito, vai preso pro quartel."

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