sexta-feira, 5 de julho de 2013

"Preto da alma preta" Sr. Paulo Henrique Amorim

Esses tempos nos trás acontecimentos que não só nos causa estranheza como repulsa. Decepções. O argumento sensato seria de que estamos em pleno séc. XXI e que pelo trajeto percorrido a humanidade já deveria ter amadurecido o suficiente para não incorrer em certas distorções. Qual nada!!!

Jornalistas Heraldo Pereira e Paulo Henrique Amorim

Pois ontem foi condenado a prisão o jornalista Paulo Henrique Amorim (foto) por ter utilizado contra seu colega jornalista Heraldo Pereira da Rede Globo a expressão extremamente racista\discriminatória de "Preto da Alma Branca". Segundo o Jornal Folha de São Paulo a pena, por crime de "injúria preconceituosa", foi fixada em um ano e oito meses de reclusão, e substituída por pena restritiva de direito a ser ainda definida. Como Amorim completou 70 anos em fevereiro, os desembargadores diminuíram a pena em três meses, "diante da atenuante de senilidade" prevista em lei (Leia a íntegra da matéria aqui)

Segundo o site "Consultor Jurídico", a relatora do processo entendeu que "as expressões usadas por Paulo Henrique Amorim “foram desrespeitosas e acintosas à vítima, excedendo os limites impostos pela própria Constituição Federal e ferindo seu objetivo primordial, que é o exercício da democracia”. “Portanto, não há como entender que o réu agiu apenas com o "animus narrandi" ou "criticandi", devendo a liberdade conferida a ele ser limitada, tendo em vista que feriu direito alheio”, escreveu. (Leia)

Quem teve o mínimo de acesso aos livros de história (os bons livros, pelo menos) sempre soube que no intuito de acabar com a escravidão indígena e dotados de "forte" argumento religioso durante o processo de catequização os Jesuítas atribuíram a cor preta como sendo representativa de tudo o que não presta e ao portador da raça negra escravizada as máculas embutidas nessa associação. Associaram o preto, o escuro, a uma raça, a raça negra. Se Deus representava o branco e o belo, coube ao seu oposto, o preto da raça negra, a escuridão,  o papel de herdar todas as vestes do seu opositor, o próprio "Lúcifer" decaído. Enfim a escravidão indígena não vingou mas o mesmo não podemos dizer com relação ao que ocorreu aos meus ancestrais da raça negra ao longo dos anos de racismo, racismo este que impera velado ainda em nosso país. 




Essa frase "preto da alma branca" pode parecer leve e com tons de brincadeira, mas na verdade carrega em sí um forte ranço discriminatório por colocar na alma branca a condição de virtudes que apenas aqueles que a possuem tem (ou teriam), ou seja, a raça branca. Um negro ou uma negra que apresentasse as características atribuídas a condição do branco, muito embora preto que fosse, seria abonado pelo fato de que, apesar de negro, em seu interior, teria "alma branca, em função de suas "pretensas" virtudes brancas. Enfim,  um absurdo.

Isso não é brincadeira Sr. Paulo Henrique Amorim. Isso é uma afronta a uma raça que sofreu anos de amarras opressivas em função desse tipo de distorção da qual até hoje lutamos por nos desvencilhar por conta de uma sociedade elitista e racista. Hoje somos "pretos da alma preta", com muito orgulho pela nossa condição de ancestralidade negra e repudiamos colocações como as do Senhor, que ferem a liberdade que construímos e que conquistamos ao longo dos séculos de opressão e de escravidão.





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