Ricardo Noblat
O PT tira a Morte para dançar quando convoca seus militantes a vestir
vermelho e a ocupar as principais avenidas de 80 cidades do país no dia
15 de março próximo em defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.
O ato será uma resposta aos promotores de manifestação semelhante
marcada para esse mesmo dia nas mesmas 80 cidades. Com duas diferenças:
essa será pelo impeachment de Dilma. E as pessoas deverão vestir verde e
amarelo.
No segundo semestre de 1992, quando avançava o processo político que
resultaria na cassação do seu mandato por corrupção, o então presidente
Fernando Collor convocou seus simpatizantes a saírem às ruas em defesa
do governo vestindo verde e amarelo.
No que deu: milhares de pessoas foram para as ruas vestidas de preto e
pedindo a queda de Collor. Foi o gatilho que disparou o impeachment.
Menos de quatro meses, o presidente estava no chão. Renunciou ao
mandato. Mas o Congresso preferiu cassá-lo.
O batom na cueca de Collor havia sido um Fiat Elba comprado para ele
por seu tesoureiro de campanha, PC Farias, com sobras de dinheiro de
campanha.
PC Farias também pagou despesas da primeira dama Rosane Collor. Tudo
mixaria se comparado com os bilhões de reais desviados da Petrobras.
Contudo, pelo menos uma coisa distingue a situação de Collor da atual
situação de Dilma. O ex-presidente foi acusado de corrupção praticada
durante o seu mandato. Se acusarem Dilma de algo parecido, será pelo que
aconteceu no seu mandato anterior.
Ninguém pode ser punido por crime registrado em outro mandato. Que Dilma, porém, não se anime muito com isso.
Impeachment é um processo político, não jurídico. Como dizia o deputado
Ulysses Guimarães (PMDB-SP), quando se conta com maioria no Congresso
se faz qualquer coisa – menos transformar homem em mulher ou mulher em
homem.
Luiz Estevão de Oliveira perdeu seu mandato de senador em 2000 não por
que desviou milhões de reais da construção do Fórum Trabalhista de São
Paulo, mas porque mentiu ao se defender. Você imagina um político se
defender de algo grave sem mentir?
No ano passado, Lula convocou a militância do PT a abraçar o prédio da
Petrobras, no Rio, em defesa da empresa. Pouca gente compareceu. Não deu
para dar o abraço. Agora, o PT se arrisca de fato a estar tirando a
Morte para dançar. Não será por falta de aviso.
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