É constrangedor quando um professor tem que se abster de fazer uma atividade com o aluno por motivos religiosos ou pela distorção dos mesmos. Me refiro ao entendimento ao meu ver distorcido que muitos evangélicos tem com relação nesse período de festas juninas principalmente aqui no Nordeste ao ensaio e prática de quadrilhas de São João, as famosas quadrilhas juninas.
Foi só eu ter falado que ensaiaríamos uma quadrilha para a apresentação na festa de encerramento da escola que logo crianças de 12, 13 anos acima começaram a argumentar que não poderiam participar por que são evangélicos. Eu disse que já fui evangélico, inclusive obreiro missionário com esportes e que me mostrassem na Bíblia alguma passagem que me dissesse que você não honra, louva ou glorifica a Deus ao participar de uma quadrilha junina. Pais chegam a vir a escola e me citam versos absurdos, frutos ao meu ver de uma ignorância tremenda quando não citam os adventistas que guardam os sábados ou judeus que não comem determinado tipo de carne e por ai vai.
Meus Deus! Quando coloco a dança enquanto conteúdo e mais especificamente um ritmo e movimento regional como é o forró através dos movimentos de uma quadrilha de festa junina, eu não estou em momento algum fomentando a comemoração da morte de João Batista e sua cabeça em uma bandeja. Eu estou trabalhando e fomentando uma cultura, a prática tão somente de um fazer significante, uma cultura popular milenar que está incorporada e enraizada dentro do sangue do brasileiro e mais especificamente do nordestino, do semiárido baiano ao qual Feira de Santana pertencem suas crenças, seus valores, sua humanidade. Assim como quando trabalho com o Maculelê, com o Samba-de-Roda, com o Samba-de-Quixabeira e com a Capoeira eu não estou fomentando a prática do Candomblé muito menos fazendo "macumba" como alguns alunos dizem, ou reproduzem por assim ouvirem falar.
Quando adoto esses conteúdos, ao meu ver legítimos da Educação Física Escolar, estou trabalhando questões que envolvem o ritmo e movimento veoltado a ancestralidade, aos ritmos afros, a cultura enfim, materializando o conhecimento. Esses conteúdos estão inclusive bastante enraizados na Bahia e são previstos de formas transversais nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). Não trato de religião, trato de conhecimento e de cultura.
É triste ver a escola, principalmente a escola ´pública, que deveria ser um espaço para esclarecimentos, verdades e produção de conhecimento tanto preconceito, tanta formação deturpadora de conceitos, tanto desrespeito e ignorância.
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