sábado, 15 de outubro de 2016

Ken, Zoe e um amor nada líquido!

(Esse é um texto fictício. Qualquer coincidência entre nomes, pessoas e fatos não passa de mera coincidência)
Ken conheceu Zoe ainda na garagem do Bill Gates. Entusiasmados pelos brilho nos olhos do Bill, de seu idealismo e doçura, acreditavam nos seus discursos visionários. Eram dias e noites de muito trabalho, experimentos, tentativas. Mas de muita musica também, risadas e de amizade. Passaram a se encontrar todos os dias. No começo não eram simples amigos e as coisas foram andando, o tempo... os olhares... cortejos.


Em uma dessas noites, regadas a um delicioso e doce vinho saíram juntos.  Ken começara a reparar na Zoe. Seus olhos,  seu sorriso.  Ela o admirava, principalmente pela sua inteligência. Dalí a poucos ambos estavam entregues as caricias entre os braços um  do outro. Prometeram um ao outro amor infinito.

Naquele tempo, Gates fechara seu primeiro contrato de venda de computadores e as coisas só começaram a melhorar depois que o dinheiro dos contratos foram entrando. 

Mas houveram tempos difíceis. Ken era aluno de Yale e Zoe não estudava. Tinha feito magistério e era apaixonada por tecnologia. O amigo com que Ken dividia o aluguel de um apartamento não se incomodava que Zoe morassem com o Ken juntos. Aluguel por sinal que sempre atrasava. Mês sim mês não sempre tinha um corte de fornecimento de energia por conta de falta de pagamento. Tiveram dias de comerem apenas pão com sardinha. Mas se amavam.  

Dias, meses, anos foram se passando e Ken e Zoe cada vez mais aumentavam o que sentiam um pelo outro. A Apple já havia crescido e ambos possuíam cargos importantes dentro da empresa. Ken terminou Yale e seu brilhantismo era valioso.  Nem pareciam aquele casal de hippies da época da mocidade. Zoe com seus cabelos cacheados compridos, lindos e longos, seu corpo magro e pernas alongadas. Ken já não usava barba e se esforçava para manter o peso em dia mas era difícil. Dinheiro não era mais problema para aqueles executivos. Pertenciam a um grande mundo novo que se vislumbrava com o advento da tecnologia desktop da Apple.

Apesar de tudo, Ken foi o primeiro a perceber que alguma coisa estava mudando. Zoe não mais o procurava. Quando estavam em casa, agora uma suntuosa casa, emudeciam já durante a janta e depois era cada um do para seu lado. Um ia ler, outro, na televisão. Pensaram em ter filhos. Um dia Zoe não aguentou e perguntou a Ken em que momento eles se perderam no caminho de suas vidas. Ken não soube responder.

Na manhã seguinte ao acordar, Ken desceu para tomar café como de costume e deu de cara com as malas de Zoe na sala ao fim da escada. Zoe o esperava na cozinha onde costumavam fazer o desjejum juntos. Zoe já não o amava mais. Havia se envolvido com um outro homem mas não tinha coragem de sair de casa. Aquele momento para ela era muito difícil, mas, mulher prática que era, não vacilou em buscou escanteios. Foi direta. 


Sim, lá se foram as promessas, as carícias e os carinhos. As confissões aos ouvidos, os pedidos, as primeiras conquistas juntos. Como tudo mudou! Ela que sussurrava em lágrimas implorando que Ken nunca o abandonasse. Declarações de amor eterno findavam-se alí, no silêncio da cozinha. O café esfriando. O táxi buzinava. 

Zoe foi embora.

Ken tomou uma xícara de café frio. Extasiado subiu, vestiu seu terno creme. Desceu, entrou no seu carro e foi trabalhar. 

E assim morreram felizes para sempre!

Naquela época, ninguém nunca imaginaria ouvir falar de Zigmund Bauman ou de sua teoria em torno do "amor líquido". Naquela época os amores não deveriam ser líquidos, nem as promessas de amor eterno, os sussurros nos ouvidos, entre lágrimas e travesseiros. 

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