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segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"




Por Verônica Dutenkefer


Esse texto que escrevo precisamente agora é mais um desabafo.

Desabafo de uma profissional que está lecionando há mais de 22 anos e que não sabe se sobreviverá por mais dez anos, que é o tempo que ainda precisarei trabalhar (por mais que ame muito o que faz).

Trago comigo muitas perguntas que não querem calar. E talvez a mais inquietante é: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país????

Constantemente ouço ou leio reportagens com as autoridades educacionais proclamarem a má formação de seus professores. Culpando as universidades, a falta de cursos de formação e culpando-nos evidentemente.

Se a educação neste país não vai bem só existe um culpado: o professor.

E aí vem meus questionamentos:

Como um professor de escola pública pode fazer o seu trabalho se ele precisa ficar constantemente parando sua aula para separar a briga entre os alunos, socorrer seu aluno que foi ferido por outro aluno, planejar várias aulas para se trabalhar os bons hábitos na tentativa vã de se formar cidadãos mais conscientes e de melhor caráter?

Nos cursos de formação nos é passado constantemente a recusa de um programa tradicional e conteudista, mas nossas avaliações de desempenho das escolas, nossos vestibulares e concursos públicos ainda são tradicionais e nos cobra o conteúdo de cada disciplina.

Como pode num país....num estado...num município haver regras tão diferentes entre a rede particular e pública?

Na rede particular as escolas continuam conteudistas, há a seriação com reprovação, a escola pode suspender ou até mesmo expulsar um aluno que não esteja respeitando as regras daquela instituição.

A rede pública vive mudando o enfoque pedagógico (de acordo com o partido que ganhou as eleições), é cobrado cada vez menos do aluno, não se pode fazer absolutamente nada com um aluno indisciplinado que até mesmo coloca em risco a segurança de outros alunos e funcionários daquela instituição.

Dia a dia...minuto a minuto... os professores são alvos de agressões verbais e até mesmo física pelos alunos. A cada dia somos submetidos a níveis de stress insuportáveis para um ser humano.
Temos que dar conta do conteúdo a ser ensinado + sermos responsáveis pela segurança física de nossos alunos + sermos médicos + enfermeiros + psicólogos + assistentes sociais + dentistas + psiquiatras + mãe + pai .......
 




E quando ameaçados de morte e recorremos a uma delegacia pra fazer um boletim de ocorrência ouvimos: “Isto não vai adiantar nada!”

Meus bons alunos presenciam o mal aluno fazendo tudo o que não pode ser feito e não acontecendo nada com ele. É o exemplo da impunidade desde a infância.

Meus bons alunos presenciam que o aluno que não fez absolutamente nada durante o ano, passou de ano como ele, que se esforçou e foi responsável.
 



Houve um ano que eu tinha um aluno que era muito bom. E ele começou a faltar muito e ir mal na escola. Os colegas diziam que ele ficava empinando pipa ao invés de ir pra escola. Um dia, tive uma conversa com ele, e perguntei o que estava acontecendo? E ele me disse: “Prá que eu vou vir prá escola se eu vou passar de ano mesmo assim?”

Então eu procurei aconselhar (como faço com meus alunos até hoje) que ele devia freqüentar a escola, não para tirar notas boas nas provas ou passar de ano. Ele deveria vir a escola para aumentar seu conhecimento que é o único bem que ninguém poderá roubar.Que a escola iria ajudá-lo a aprender e trocar conhecimentos com os outros e ajudá-lo a dar uma melhor formação na vida..

Depois dessa conversa ele não faltou mais tanto...mas nunca mais voltou a ser o excelente aluno que era.

Qual a motivação de ser bom aluno hoje em dia?

Seus ídolos são jogadores de futebol que não falam o português corretamente e que não hesitam em agredir seus colegas jogadores e até mesmo os árbitros. Ensinando que não é necessário haver respeito as autoridades e aos outros.

Ou são dançarinas que mostram seu corpo rebolando na televisão e pousando nuas para ganhar dinheiro.

Para quê eu me matar de estudar se há tantas profissões que não são valorizados e nem respeitadas??? - Dizem eles.

Conheci (e ainda conheço e convivo) ao longo de minha carreira na escola pública, inúmeros profissionais maravilhosos. Pessoas que amam a sua profissão, que se preocupam com seus alunos, que fazem trabalhos excepcionais. Que possuem um conhecimento e formação excelentes, mas que estão desgastados e quase arrasados diante da atual situação educacional.

Li a poucos dias num artigo que os cursos de filosofia, matemática, química, biologia e outros todos ligados a área de magistério não estão tendo procura nas universidades.

Lógico!!!!!Quem é que quer ser professor?????????

Quem é que quer entrar numa carreira que está sendo extinta, não só pela total desvalorização e respeito, mas também pela falta de segurança que estamos enfrentando nas escolas.

Fiquei indignada com uma reportagem na TV (que aliás adora fazer reportagens sensacionalistas colocando o professor sempre como vilão da história) em que relatava que numa escola um aluno ameaçava os outros com um revólver e num determinado momento o repórter perguntou:”Onde estava o professor que não viu isso??!!”

E agora eu pergunto: “O que se espera de um professor (ou de qualquer ser humano), que se faça com uma arma apontada pra você ou pra outro ser humano??? Ah...já sei...o professor deveria enfrentar as balas do revólver!!!! Claro!!! As universidades e os cursos de aperfeiçoamento de professores não estão nos ensinando isso..

Vocês tem conhecimento de como os professores de nosso país estão adoecendo????

Vocês sabem o que é enfrentar o stress que a violência moral e física tem nos submetido dia a dia?

Você sabe o que é ouvir de um pai frases assim:

“Meu filho mentiu, mas ele é apenas uma criança!”

“Eu não sei mais o que fazer com o meu filho!”

“Você está passando muita lição para meu filho, e ele é apenas uma criança!”

“Ele agrediu o coleguinha, mas não foi ele quem começou.”

“Meu filho destruiu a escola, mas não fez isso sozinho!”

Classes super lotadas, falta de material pedagógico, espaço físico destruído, violência, desperdício de merenda, desperdício de material escolar que eles recebem e, muitas vezes, não valorizam (afinal eles não precisam fazer absolutamente nada para merecê-los), brigas por causa do “Leve-leite” (o aluno não pode faltar muito, não por que isso prejudica sua aprendizagem, mas porque senão ele não leva o leite..)

Regras educacionais dissonantes de acordo com a classe social dos alunos.

Impunidade.

Mas a educação não vai bem, por causa do professor..

Encerro esse desabafo com essa pergunta que li a poucos dias:

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.

"Todo mundo  'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos  filhos...  Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Desabafo de um professor... (Mais um!!!!!!!!!)

Prezad@s amig@s

Não quero aqui insinuar que o que  falta ao atual governo baiano seja formação intelectual. Não quero, mas poderia, uma vez que nunca se viu, "na história desse país", um descaso tão grande com a qualidade
da educação na Bahia. 

Um governo que tem como carro chefe um programa de alfabetização de adultos, chamado TOPA, não pode fazer parte do mundo contemporâneo, não pode ser levado a sério. (Lembrem-se que o governado recebeu alguns mil reais para cortar a barba e doar o dinheiro ao Instituto Airton Sena). Não estou aqui contra a alfabetização de jovens e adultos que não tiveram condições de aprender a ler e escrever no tempo desejado. Mas dizer que as crianças e jovens que estão fazendo os seus cursos na idade escolar deseja não podem sofrer com a desqualificação, cada vez mais forte, da educação básica e, agora, por último, das universidades públicas estaduais.

Caminhando na contramão do governo federal, que, mesmo que ainda de forma não desejada (os hospitais universitários estão em estado de calamidade, as condições físicas dos prédios são as piores possíveis, entre outras coisas), têm procurado investir na ampliação de vagas e na reposição de perdas salariais dos professores, o Governo da Bahia "mina" as suas universidades, retirando-lhes a autonomia, pagando, aos professores, os piores salários do nordeste (não estamos comparando com as universidades públicas do sudeste e sul), sem contar a total falta de condições de trabalho. 

Por último, como se nada fosse contra a esse governo, o seu titular publica um documento congelando os salários dos professores até 2015. Tudo isso para economizar dinheiro para a Copa de 2014. (sic!).  Não há como não imaginar que o custo da corrupção para a construção das obras será grande. Além da Copa, o governo do Senhor Jacques Wagner criou mais quatro secretarias e, para o seu gabinete, em particular, criou, segundo informações dos jornais, trinta e nove cargos comissionados. Em outras palavras, é muito melhor investir na corrupção, no atendimento de interesses políticos distantes dos interesses do Estado e da própria sociedade, do que investir (no nosso caso, manter, pelo menos, o que tínhamos: o direito a reajustes anuais, autonomia das universidade, entre outros) na qualidade da educação e, em particular, manter as universidades com condições de produzir conhecimento e formar cidadãos qualificados para o trabalho e para a pesquisa. Não podemos mais suportar governos e políticos que só visam os interesses pessoais de poder. 

 A democracia no Brasil está consolidada, por isso não nos interessa mais o discurso cínico da propaganda, a negociação em forma de negociata, ações que vão de encontro ao real interesse público. Não suportamos mais o jogo autoritário com discurso farsante da democracia. Queremos governos comprometidos, realmente, com o povo, com toda a Bahia.  E para a Bahia ser de todos nos é preciso nos posicionar firmemente diante do estado político que nos encontramos, uma vez que não existe o grande salvador da pátria. É preciso educação de qualidade, fim da corrupção, investimento na saúde pública, universidades que possam contribuir com a construção de políticas públicas sérias. Só o investimento em pesquisa e em conhecimento pode fornecer os caminhos adequados para as decisões de interesse público. Não a "cabecinha" de um governo medíocre que quer destruir as suas instituições responsáveis pela formação de educação, pela produção de conhecimento, pela formação de técnicos competentes e do pensamento crítico. 
As universidades, bem como a educação básica, a saúde, entre outras áreas, não pode ficar sob a decisão de um governo que só sabe fazer política e, diga-se, uma política rasteira, atrasada, que visa um projeto de eternização de poder.

Desculpem o desabafo, mas se concordam podem passar adiante. Caso não concordem, deletem.

Abraços

Silvio Carvalho
www.palcomp3.com.br/silviocarvalho